UM SEMINÁRIO IMPROVÁVEL: 25 ANOS DE SOLIDARIEDADE



            A Casa do Oeste foi palco das comemorações dos 25 anos da Missão Guiné que a Fundação XXIII tem levado a efeito desde que um grupo de pessoas ligadas à Ação Católica Rural decidiu fazer algo de diferente nas suas vidas, há um quarto de século atrás.
 No fim de semana de 4  e 5 de Junho cerca de cem pessoas puderam revisitar todo um caminho de sonhos, projectos, realizações, emoções, convicções, esperanças e muitas dificuldades transformadas em permanentes desafios sempre e cada vez mais motivadores.
Os partipantes tiveram oportunidade, uns de recordar, outros de ficar a conhecer melhor, todo um conjunto de projectos que tornados realidade graças à cooperação da Fundação João XXIII com instituições e lideres locais, sempre numa perspectiva não de "fazer para", mas de "fazer com".
Poderiam elencar-se aqui os projectos levados a cabo, as instituições parceiras, a história de solidariedade e fraternidade destes 25 anos, referenciando, nomes, factos, processos. Faria todo sentido expôr aqui o que foram as extraordinárias intervenções destas comemorações, no entanto algo que está para além do que se pode ver no imediato, salta aos olhos do coração. O Dr. Luís Gonçalves que tem estado à frente do projecto Visão-Guiné e pôs centenas de guineenses a ver de novo, falou de milagres; a Drª Teresa Carvalho que há vários anos tem despistado o HIV, socorrido os doentes com malária ou tuberculose, também falou de milagres; a Filomena Almeida que tem sido uma peça fundamental e decisiva em todo este processo solidário veio falar de erros cometidos necessários para corrigir a trajectória dos sonhos; a Drª Luisa Carvalho responsável pelo projecto AIDA, que traz guineenses para Portugal afim de fazerem tratamentos ao coração, resolveu que não ia dizer nada do que trazia escrito;

"este programa de intervenções parecia uma amálgama de emoções mais ou menos à solta"

O Jacinto Filipe  e o Paulo Santos que estavam responsáveis pela apresentação da origem e história destes 25 anos de solidariedade com a Guiné apresentaram meia-hora de textos poéticos sobre imagens guineenses que muito mais do que contar a história desafiou os presentes para o futuro; o Francisco outro veterano desta missão, chorou ao lembrar Fernando Ká, de quem ninguém se esquece; o Dr. Acácio Catarino que poderia ter-se ficado pelo elogio justo e merecido aos que têm dado a vida pelo projecto, atreveu-se a revelar o segredo do sucesso desta missão, a saber, a partilha das limitações...e como se tudo isto não bastasse a maioria das pessoas que ali estavam nunca pôs os pés na Guiné. Apesar de muito bem orientado pelo A. Ludovino este programa de intervenções parecia mais uma amálgama de emoções mais ou menos à solta.
 Um jovem guineense lembrou-se de perguntar algo , mais ao menos nestes termos:" afinal porque é que vocês fazem tudo isto pela Guiné, o que vos motiva?"
 Várias respostas se fizeram ouvir em simultâneo, mas nenhuma taxativa, com principio meio e fim, minimamente elaborada. A resposta começou a ganhar forma quando dois dos lideres guineenses ali presentes falaram. Du da Silva da COAGRI, projecto em desenvolvimento no âmbito da agricultura e  Raúl Daniel, professor  e director da Cooperativa Escolar S. José de Mindará.


O Raúl apresentou um monte de fotografias das obras das novas salas de aula da escola e o Du outras tantas fotografias nocturnas onde pouco mais se via que focos de luz aqui e acolá.
Pois... a resposta àquela pergunta está mesmo aqui: a escola cresce e a granja já tem luz electrica! Muitas mulheres já têm trabalho nesta quinta e os homens já  se oferecem para trabalhar também; a escola do Raúl já enviou centenas de finalistas do secundário para o ensino superior em vários países do mundo. Muitos cegos voltaram a ver e várias pessoas puderam ser tratadas dos seus problemas cardíacos; muitas crianças tiveram oportunidade de serem curadas da malária e da tuberculose; outras já podem frequentar o infantário de Bissá.



 
"Deus providênciará"
Como é possível tudo isto? Milagres acontecem na hora H: as pessoas certas que aparecem, os meios que surgem no momento preciso, as estratégias mais improváveis de que alguém se lembra. Diz o Pe. Batalha, cuja lucidez, tenacidade e fé lideram este exército da Boa Vontade, diz a todo o momento "Deus providenciará!" E não é que providencia mesmo?!  É por isso que se juntam tantas pessoas que nunca foram à Guiné, mas que na retaguarda asseguram os meios materiais, financeiros e logísticos para que possa tudo acontecer.
Os guineenses presentes agradecem porque estão mais felizes com toda a solidariedade e amizade dos portugueses e os portugueses agradecem profundamente aos guineenses pela oportunidade de aprenderem a ser felizes. Talvez seja esta a resposta mais verdadeira e acertiva à pergunta do Semedo.
 Por tudo isto provavelmente este não foi o seminário comemorativo que se esperaria mas sim o que o Espírito Santo inspirou.

Paulo Santos e Jacinto Filipe