MISSIONÁRIOS DA SOLIDARIEDADE COM O POVO DA GUINÉ

Regressou há dias, o grupo de voluntários, que esteve 2 semanas na Guiné, do qual fizeram parte:

P. Joaquim Batalha (Ribamar/Lourinhã), Jacinto Filipe e Cátia Zeferino (S. Isidoro/Mafra), Abílio Salvador (Obidos), José Miguel, Anabela Areias, e Patrícia Pereira(Lisboa), Ana Pereira (Gondomar/ Norte), Fernanda Gil (Mafra) e Mª do Rosário (S. João das Lampas/Sintra) - no grupo prevaleciam professoras/ assistente social.


















Esta Missão de Agosto foi aproveitada para: formação de 17 professores do ensino primário;  apoio social junto das famílias mais carenciadas com distribuição de arroz e roupas; apoio a alguns projectos com materiais e equipamentos que levámos num contentor: uma camioneta destinada ao Infantário de Bissá, um motor para um camião Volvo para a Cooperativa Escolar de S. José em Bissau; camas de hospital e equipamento médico que entregámos ao Hospital da Cumura, chefiado pelo médico Franciscano, frei Vítor, em Bissau; medicamentos e algum equipamento hospitalar para a Clínica Bom Samaritano, em Ondame; 150 sacos de cimento, 100 varas de ferro de 10 e mais 100 de 6 para diversas obras; livros e estantes para a Biblioteca de Ondame; colchões e muita roupa que entregámos à Comunidade das Irmãs de Ondame para distribuírem pelas famílias das Tabancas que elas visitam e  alimentos e muita água para a nossa casa para os grupos que forem a seguir a nós.

Em virtude desta nossa acção humanitária se ter enraizado e de uma forma crescente, fomos, desta vez, criar na Guiné, uma Delegação oficial da Fundação João XXIII/Casa do Oeste, com sede em Ondame, no Centro Social João XXIII. A assinatura da escritura no Notariado do Tribunal de Bissau foi notícia na Televisão Nacional e nas três Rádios mais ouvidas na Guiné: Rádio “Sol Mansi” (católica), Rádio “Bombolom” e a Rádio “Pinchiquite”. Esta oficialização da Fundação tem por objectivo agilizar as nossas parcerias e apoios; sendo reconhecidos talvez seja mais fácil desalfandegar os contentores que normalmente têm levado um mês, o que dificulta a nossa acção.

Sentimo-nos felizes por ver que os projectos que temos vindo a apoiar têm-se desenvolvido, alguns com grande repercussão nacional, nomeadamente, na área da saúde, gerindo a Clínica e Maternidade do Bom Samaritano que envolve uma população de mais de 15.000 habitantes. A Maternidade garante mais de 350 partos por ano em condições seguras e acompanhamento das mães e crianças da Região do Biombo. A Prevenção vertical de HIV é uma das valências da Clínica do Bom Samaritano contribuindo para a redução do índice desta epidemia na região e no país.


















Na área da educação que é essencial, a nossa FUNDAÇÃO apoia a Cooperativa Escolar de S.José, desde há 20 anos. Foi o primeiro projecto que começou com cerca de 40 crianças. Hoje destaca-se pela qualidade de ensino e por ter o maior número de alunos na capital, cerca de 3.800 alunos nos seus actuais 3 estabelecimentos de ensino. O projecto cresceu à medida das necessidades e a Escola Profissional é já este ano uma realidade.

No sector agrícola, o nosso apoio começou em 2001, a uma pequenina cooperativa de jovens técnicos agrícolas que se tinham acabado de formar em Cuba. Visitámos a sua iniciativa incipiente que iniciaram com 30 kg de arroz, 30 litros de feijão e com 8.000 CFA (= a 12,5 €) e num terreno emprestado pelo Estado. Ao longo de 10 anos temos dado algum apoio: mangueiras para rega, um tractor em 2ª mão para o cultivo do arroz, ferro e sacos de cimento, e diversos materiais. Agora vi que já adquiriram com o seu trabalho diversos outros meios, entre os quais destaco: tiveram de entregar o terreno emprestado e compraram 3 grandes terrenos, num dos quais têm uma boa sede social; criaram uma Rádio Comunitária para chegar a todas as Tabancas (aldeias) com a formação que eles têm promovido junto das mulheres, partilhando os seus conhecimentos com os outros; encontrámos lá um Grupo vindo de Bissau a fazer formação para iniciar uma experiência semelhante à deles; já iniciaram a transformação de produtos (sumos de caju, de cabaceira e vinagre de limão) que já começaram a comercializar. Esta experiência cooperativa já ganhou nome e credibilidade em todo o país.

A Cooperativa Escolar de S. José de Mindará, em Bissau; a Clínica e Maternidade Bom Samaritano, em Ondame (onde temos a nossa casa – a 70 kms a poente de Bissau) e a Cooperativa Agrícola de Jovens, em Canchungo, são os maiores projectos que a Fundação João XXIII/Casa do Oeste tem vindo a apoiar, mas há ainda outras iniciativas mais pequenas: o Infantário, em Bissá; a criação duma Rádio Local, junto da nossa casa “Rádio N´Djerapa Có–A Voz de Biombo” (iniciativa dos jovens). Esta é o primeiro órgão de comunicação social da região do Biombo que fala a mesma língua e o mesmo dialecto, mostrando o país e o mundo a um povo isolado e foi construída de raiz com material e formação fornecidos pela FUNDAÇÃO JOÃO XXIII em Novembro de 2009; Centro Cultural N’Delugan que é um espaço de lazer, cultura, informação; Biblioteca de Ondame: “Quem lê sabe mais”. Esta é a primeira biblioteca da região para professores, alunos ou simplesmente para quem quer saber mais. 
Um projecto ambicioso que pode marcar a diferença, mas só será possível  com o apoio de todos os que acreditam que:
•A Guiné/Bissau pode deixar de ser um dos 10 países mais pobres do mundo
•Que a educação e a saúde são os pilares base para o desenvolvimento de uma sociedade
•Que esse desenvolvimento é possível se todos olharmos para o nosso lado

Por isso o nosso lema é “Ajude-nos a ajudar”

Pe Batalha





ASSIM NASCE UMA BIBLIOTECA!

FÉRIAS SOLIDÁRIAS
“Quem lê sabe mais…”


“Em Janeiro de 2010 parti com mais um grupo de voluntários da Fundação João XXIII, para Ondame (situada na Região do Biombo, na costa Oeste da Guiné Bissau, a cerca de 60 km da capital). Nesta população, com cerca de 15000 habitantes, não há luz nem água, excepto nos locais apoiados pela Fundação João XXIII. O objectivo deste grupo era dar seguimento aos projectos existentes (Clínica e Maternidade Bom Samaritano, e Rádio Ndjerapaco) e o meu objectivo pessoal era criar um novo projecto: a Biblioteca Bom Samaritano, pois não existia nenhuma biblioteca na região e possuíamos imensos livros, fruto de variados donativos.

2010, o início da aventura…
Para este novo projecto foi disponibilizado um local, que depois de alguns anos a servir como armazém, renasceu com mais vida, mais luz e mais dinamismo.






















Para tal foi necessário reparar o telhado, rebocar e pintar as paredes, limpar e construir prateleiras, para finalmente se poderem  instalar os livros previamente catalogados, registados e etiquetados.






















De modo a organizar e estruturar da melhor forma a nova Biblioteca, estabeleci um contacto com a Biblioteca da Póvoa de Varzim, que contribuiu com informações e sugestões, um livro para registo dos livros existentes e alguns posters para decoração do local.

E assim, a 2 de Fevereiro de 2010, a Biblioteca Bom Samaritano abriu as portas à população de Ondame, pelas mãos do seu responsável – Lázaro Yé – um jovem guineense da etnia papel (a etnia predominante em Ondame). A Fundação João XXIII tinha assim dado vida a mais um projecto e criado um posto de trabalho.


2011, a Biblioteca Bom Samaritano, 1 ano depois
Em Janeiro de 2011 regressei a Ondame com um novo projecto para a Biblioteca – levar computadores (que foram obtidos através de vários donativos de empresas e particulares) e dar formação de informática, para dotar algumas pessoas de mais competências. Apesar de ter tido algum feedback positivo, ao longo de 2010, sobre a Biblioteca, eu estava ansiosa de a ver com os meus próprios olhos…“como irei encontrar a Biblioteca? E o trabalho do Lázaro, como estará a correr?”

Cheguei a Ondame no dia 20.01.2011 e no dia seguinte, às 9h00 da manhã estava à porta da Biblioteca, para a sua abertura! Foi uma emoção muito grande encontrá-la de novo, falar com o Lázaro e ver que o nosso empenho tinha criado frutos! A Biblioteca encontrava-se impecavelmente tratada e mantida e o Lázaro estava muito feliz e orgulhoso da sua Biblioteca. Tive a sensação que podia ter voltado nesse momento para Portugal, pois a Biblioteca está em muito boas mãos.

A Biblioteca acolheu mais livros, vindos de um liceu local e de donativos e muitas vezes a sua lotação de apenas 10 lugares é insuficiente.





























Por iniciativa própria, o Lázaro implementou algumas medidas importantes para o bom funcionamento e manutenção da Biblioteca:
- antes de entrar na biblioteca, cada pessoa deve lavar as mãos num balde colocado à entrada para esse efeito (de lembrar que não existe água canalizada…),
- antes de entrar na Biblioteca, cada pessoa deve descalçar-se,
- diariamente a Biblioteca é varrida e lavada e semanalmente é feita a desinfestação da formiga bagabaga (que ataca violentamente a madeira, adobe, etc.)

No dia 24.01 reunimo-nos com os directores das escolas, liceu e infantário, alguns professores e o Lázaro, para explicar o âmbito da formação, prepará-la e também para fazer um ponto da situação, relativamente à Biblioteca. Foi gratificante ver que a maior parte dos professores envia os seus alunos para fazerem pesquisas nos livros da Biblioteca e estão muito contentes com este espaço. Outros porém ainda não tinham ido visitar a biblioteca….e por isso no fim da reunião fomos todos “de forma voluntária” visitá-la!

No dia 25 iniciámos (eu e a Inês Santos) a formação em Informática, com 28 alunos divididos em 4 turmas. Os formandos foram, na maior parte, sugeridos pelos directores das escolas e eram quase todos professores, além do Lázaro.

Apenas 4 ou 5 formandos tinham tido algum contacto com computadores, o que nos deixava um universo de cerca de 20 pessoas que NUNCA tinham tocado sequer num computador! Foi uma aprendizagem, para eles e para nós também, pois o que muitas vezes é tomado como “garantido”, “óbvio”, “normal”, “básico”, ali, em Ondame, onde ninguém tem luz eléctrica nem água canalizada em casa, e as casas são feitas de terra, estes termos ganham uma dimensão completamente diferente… e uma Biblioteca, com luz eléctrica e computadores, assemelha-se um pouco a um extraterrestre…

Ao longo das duas semanas de formação fomos caminhando juntos, perdendo o medo aos computadores, ao desconhecido…fomos descobrindo capacidades e potenciais escondidos e em mim cresceu a certeza que o que cada Ser Humano precisa é de ter uma oportunidade para mostrar o seu valor, seja em que área for…Demos formação em WORD e EXCEL e deixámos a Biblioteca com 3 computadores prontos a serem utilizados pela população e por quem queira aprender um pouco mais. Deixámos também uma impressora multifunções, que neste momento funciona apenas como fotocopiadora, e que só por si já presta um serviço importantíssimo à população.

Há muito mais para fazer, e por isso para o ano voltaremos, com certeza!

Obrigada a todas as pessoas que ajudaram a tornar este sonho realidade!”
Depoimento de Claudia Martins