REBANHOS DE CABRAS: UMA DAS SOLUÇÕES PARA A GESTÃO DO FOGO
 
A Cooperativa Terra Chã promove no dia 29 de novembro, no Auditório dos Paços do Concelho de Rio Maior, o seminário “Cabras-Fogos-Gestão de Habitats”.
A iniciativa pretende dar a conhecer o trabalho da silvopastorícia dinamizado por associações, empresas e munícipios onde se utilizam os rebanhos de cabras em pastoreio extensivo, sob a forma de pastoreio dirigido, procurando que a ação das cabras tenha impacto significativo na gestão de combustíveis e na gestão de habitats e, como consequência na minimização do impacto dos fogos rurais.
Trata-se de uma rede colaborativa de diversas organizações e entidades que cooperam na permuta de experiências e de conhecimento à volta do pastoreio extensivo como uma das possibilidades de intervenção das problemáticas dos fogos rurais.
 

Segundo, Júlio Ricardo, dirigente da Coop. Terra Chã, “...o abandono dos terrenos agrícolas, associados à agricultura familiar e de pequena e média escala, a substituição de culturas que ainda formavam um determinado mosaico agrícola, com faixas de descontinuidade que impediam a atual dimensão dos incêndios e a progressão dos matagais, contribuiu para a atual calamidade que todos os anos transforma o nosso país em triste notícia”.
Acrescenta, ainda, “que não podemos culpabilizar os idosos que ficaram nas suas aldeias e que, perante as dificuldades provenientes da idade e de uma legislação penalizadora da pequena agricultura, foram nas suas pequenas parcelas de terreno, substituindo a vinha, os pomares e outro tipo de culturas pelo eucalipto, pelo pinheiro manso ou bravo porque sabiam que, sem gestão, de tempos em tempos, poderiam receber um pequeno proveito financeiro, que juntariam às suas magras reformas”.


Assim, durante as últimas décadas, fomos deixando acumular barris de pólvora, uns sobre os outros, e aproveitando os Verões e Outonos para carpir tristes situações, num crescendo que culminou neste ano de 2017.
No entanto, começa a ser tarde, para abrirmos os olhos e afirmarmos, de viva voz, que é fundamental garantir a sustentabilidade da gestão do mundo rural .

Há que dar visibilidade a quem teimosamente demonstra a viabilidade do mundo rural.  No concelho de Arcos de Valdevez, a Associação Territórios com Vida e a empresa familiar Quinta Lógica trabalham com os seus rebanhos de cabras. Na Associação Montis, em Vouzela, olha-se para o território com olhos de ver e de pensar e faz-se uma gestão de vastos terrenos, quer adquiridos pela associação, quer cedidos para gestão, conciliando as espécies, a intervenção e o fogo.
Mais ao lado, na Serra das Estrela, a Associação Florestal Urze trabalha com o seu rebanho de cabras na manutenção das faixas de descontinuidade, tentando a minimização do impacto dos fogos rurais.
O Munícipio de Penela há muito tempo que desenvolve uma parceria com a Coop Terra Chã para aprendizagem recíproca sobre a utilização dos rebanhos. Desta vez, estará no seminário a Associação de Moradores da Aldeia da Ferraria de S. João que resolveu intervir e criar uma zona de proteção à aldeia, arrancando os pés de eucaliptos em cerca de 6 ha, indo colocar espécies autóctones e reintroduzir rebanhos de cabras e ovelhas para assegurar a limpeza pela pastagem.
Da Galiza participará a experiência da Coop. Monte Cabalar que tem uma experiência de gestão de milhares de hectares nos montes galegos, onde predominam, nas pastagens extensivas o gado bovino e cavalar.
 
O seminário tem início com uma visita à aldeia de Chãos, para ver, in loco, o trabalho do rebanho de cabras da Coop Terra Chã. Miguel Freitas, Secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural integrará a visita dos participantes do seminário ao projeto da Terra Chã e fará a abertura do seminário, que decorrerá no Auditório da CM de Rio Maior.
 

Júlio Ricardo, da Terra Chã refere ainda que “... este projeto faz parte de um trabalho da rede portuguesa de pastoreio extensivo que, a partir do trabalho que já desenvolve, resolveu fazer uma candidatura a Grupo Operacional da Rede Rural Nacional, visando a aprendizagem mútua, a conceptualização de um novo conceito de pastoreio, a disseminação e a aplicação das boas práticas identificadas. E porque é importante a componente científica, o projeto também tem a parceria do INIAV e do Instituto Superior de Agronomia”. 

Numa 1ª fase de candidatura, o projeto não foi aprovado porque os decisores consideraram que havia falhas nos fatores de inovação porque parece, que não se apresentavam novos produtos, nem novos resultados, naquilo que a parceria considerou uma visão de inovação que esquece a alteração de modelos de gestão e de modelos de comercialização como componentes centrais do uso inovador do pastoreio numa gestão do território socialmente mais útil e mais sustentável!...”
 

 

 

 


HOMENAGEM AO ENGº AMADO  SILVA

Na próxima 6ª feira,  dia 24 de Novembro, vai realizar-se em Caldas da Rainha, uma homenagem ao Engº Amado, que faleceu há 10 anos, mas a sua obra e dedicação, continua ainda bem presente na memória de muitos agricultores do oeste, nomeadamente em muitos militantes da Ação Católica Rural, que participaram em diversas atividades de formação por si orientadas.

Esta homenagem é uma oportunidade para realçar a importância  e a atualidade de muitos dos seus trabalhos, nomeadamente na fruticultura, bem como  a forma de estar presente junto dos agricultores, atitudes a que importa hoje realçar e dar continuidade.

A AÇÃO CATÓLICA RURAL ASSOCIA-SE À HOMENAGEM

“Passam neste mês de Novembro dez anos sobre o falecimento do engº Amado. Um grupo de amigos e algumas organizações levam a cabo umas jornadas técnicas e um jantar em homenagem ao homem e ao técnico de fruticultura que foi o Amado.
            Também nós, ACR nos associamos a esta homenagem. No final dos anos 70, a ACR decidiu promover por algumas aldeias do Oeste, concelhos do Bombarral e Lourinhã ações de formação agrícola. Esta formação, que decorria numa manhã ou numa tarde durante um dia por semana, dividia-se em duas partes. Na primeira, a cargo da ACR divulgava-se a Mater et Magistra do bom papa João XXIII, nos capítulos em que se abordava a agricultura e sobretudo o associativismo e a cooperação. A outra parte sobre técnicas agrícolas nos sectores da horticultura, fruticultura e vinha. Na fruticultura logo se encontrou no engº Amado e outros, um grande entusiasmo nestas ações de formação que se desenvolveram durante um ano desde as podas até à colheita. Foi um técnico que sempre se colocou ao lado dos agricultores, com uma simplicidade cativante que sabia ouvir a experiência dos agricultores e lhes transmitir os seus conhecimentos ajudando-os a melhorar as suas culturas frutícolas. Deixou junto destes agricultores uma grande amizade e da parte destes uma grande admiração pelo homem e pelo técnico.”

Luis Gonzaga Nunes