CARTA DE RIBAMAR - Uma Economia Solidária é possível


A encerrar o 2º Encontro de Economia Solidária foi lido este documento/compromisso dos participantes no Encontro. Foi enviada a carta a todos os presentes e pedido propostas de alterações, acrescentos, etc. Recolhidas as sugestões deu-se por concluído este texto:
 
Os desafios que hoje se nos colocam a nível político, económico, social e cultural exigem que os enfrentemos com conhecimento, realismo, determinação e capacidade de ação coletiva. Fundamentados nos valores da liberdade, da justiça, da paz, da dignidade das pessoas e da proteção dos recursos naturais, queremos exercer, conscientemente, os nossos inalienáveis direitos e deveres de cidadania, no dia a dia.
Como em situações anteriores, as desigualdades salariais, os bloqueios, o desconhecimento e o desinteresse, incentivam a ação oportunista dos poderes financeiros, que, sem qualquer sensibilidade social, agravam e prejudicam a esmagadora maioria das populações. Por isso, afirmamos: é indispensável libertar as pessoas, nomeadamente as mais desprotegidas; é urgente que nos libertemos do medo, da inação, com um esforço coletivo, para podermos trabalhar contra a opressão económica, financeira, social e cultural.
Com esta perspetiva, encontrámo-nos, voluntariamente no 2º. ENCONTRO DA ECONOMIA SOLIDÁRIA, em Ribamar - Lourinhã, a 1 de Abril de 2017, mais de sete dezenas de pessoas que aderiram à iniciativa da Fundação João XXIII-CASA DO OESTE, dos AMIGOS DE APRENDER, da Cooperativa TERRA CHÃ (Rio Maior), do Centro de Desenvolvimento Comunitário do LANDAL (Caldas da Rainha) e da CASA DO SAL (Figueira da Foz). Assim, organizados atentos e motivados, debatemos a realidade que nos cerca, com o objectivo de contribuir com sugestões de ação individual e coletiva, para a alterar. Com a preciosa colaboração de especialistas e companheiros com intervenção efetiva no terreno, analisámos OS DESAFIOS DE HOJE - COMPREENDER O MUNDO; - INICIATIVAS, EXPERIÊNCIAS e PRÁTICAS (de Miro - Penacova, Lousã, Vale da Trave), e discutimos, em grupos de trabalho - Inovação Social; Democracia, Poder, Ética das/nas organizações; Repensar o Trabalho; Educação, Desenvolvimento, Aprender na vida; Bem Comum, Comunidades e Redes Colaborativas, como podemos agir para transformar.
A partir daí, interrogámo-nos acerca dos DESAFIOS E OPORTUNIDADES: PARA QUE MUNDO VAMOS? POR ONDE VAMOS? COMO VAMOS?
Face à pertinência de uma transformação substancial e urgente da situação atual, para a pôr de acordo com os valores fundamentais da humanidade e o respeito pelos valores da Biodiversidade e da Sustentabilidade dos Ecossistemas, os participantes comprometeram-se em viver, divulgar e praticar o sentido e as ações debatidas, bem como agir dentro dos seus grupos naturais e das comunidades em que se inserem, de modo a criar uma conexão comum de intervenção na sociedade, invocando, defendendo e exercendo os seus direitos e os das pessoas, sempre que a situação o exija, numa visão plural e ecocêntrica.

 O futuro próximo está ao virar da esquina, quando agimos com criatividade, agilidade, acreditando que somos capazes, de o construir, solidariamente.
Casa do Oeste, Ribamar, 1 de Abril de 2017

 

PÁSCOA EM BISSAU – TESTEMUNHO

O Pe Batalha recebeu do nosso Delegado da Fundação João XXIII/Casa do Oeste, da Guiné-Bissau, o Prof guineense Raúl Daniel, este belo testemunho:

«Do fundo do coração estou feliz, por pertencer a uma das paróquias mais dinâmica em Bissau, Santo António de Bandim. Vivi a Pascoa olhando admiravelmente  o crescimento das 4 comunidades   da paróquia. Perante milhares de pessoas que cantaram, rezaram com ramos de palmeiras nas mãos pelas Avenidas do Bairro , celebrando a entrada do Rei em Jerusalém no Domingos de Ramos. Como se não bastasse, milhares dos paroquianos só de comunidade Central Bandim, rezaram sem cansar toda a  noite e todo o  dia de quinta-feira e sexta-feira Santa. Fizeram via-sacra ao vivo, percorrendo a volta ao  Bairro de Mindará, sem se preocupar com sol ardente   e o muito calor que fazia. Tudo veio a terminar  só as 18 horas depois de adoração de cruz e comunhão. Sábado santo  perante milhares de pessoas só comunidade de Bandim, participaram na celebração litúrgica que começou 21 horas com a bênção do Fogo e só terminou  as duas (2) horas de madrugada com 212 batismos de novos cristãos -  isto é,5 horas de tempo. Que Jesus Cristo Ressuscitado  faça mais Cristãos capazes de converter do fundo de coração e mudar a mentalidade dos cidadãos sobretudo os políticos Guineenses.  Continuação de Boa, feliz e santa Páscoa».
Raul Daniel

 DISCURSO DO PE BATALHA (presidente do Conselho de Administração da Fundação João XXIII) no encerramento em Bissau da Conferencia sobre 25 anos de Solidariedade com a Guiné
Amigos
Esta Conferência faz-me recordar a vocação abraâmica da nossa Fundação: «Deixa a tua terra e vai à terra que Eu te indicar…» e viemos parar à Guiné.
Hoje podemos alegrar-nos e, contemplando a solidariedade realizada, também podemos dizer que vimos que é bom o que fizemos.
Abrindo as nossas portas, saímos às periferias dos mais pobres, conforme nos propõe o papa Francisco. Abrimos a nossa relação ecuménica na dimensão humanitária: com a Igreja evangélica em Ondame, com a Casa Emanuel em Bissau e com vários muçulmanos.
Deus obrigado ! Graças a Deus.
Assim alcançámos os objectivos da Fundação João XXIII que são baseados em valores e princípios partilhados, inspirados na Sagrada Escritura e na doutrina social da Igreja, com a ideia de construir uma civilização do amor (Paulo VI) fundamentada nos valores da fraternidade em confiança mútua e diálogo franco e aberto, do respeito pela dignidade da pessoa humana, da opção pelos mais pobres, da solidariedade que não é um simples sentimento de compaixão, mas determinação firme e perseverante de trabalhar para o bem comum, de todos e de cada um, do respeito pela cultura e tradição local.
Porque acreditamos que o desenvolvimento é fruto da justiça, da paz e da solidariedade.
Os voluntários que se disponibilizam a participar no projecto “Férias Solidárias”, organizadas pela Fundação João XXIII/Casa do Oeste, são pessoas do meio rural e de modestos recursos financeiros, como já referi na 1ª comunicação. Porém o que nunca é demais sublinhar, é o facto de o povo da Guiné ter abraçado esta iniciativa promovendo-a e desenvolvendo-a como sua, conseguindo-se, nesta partilha evangélica, realizar a obra que se tem visto crescer. Mas convosco também nós aprendemos muito:
1.      Aprendemos a valorizar o nosso País e as coisas que têm;
2.      A entender, com muito mais clara evidência, as coisas que são essenciais à vida e as que são perfeitamente supérfluas;
3.      Aprendemos a tomar consciência de que tudo o que possuímos não pode ser gasto de qualquer maneira, quando milhões de seres humanos, todos os dias, lutam desesperadamente pela sobrevivência.
Temos consciência de que os nossos gestos de solidariedade não chegam para salvar o mundo. Porém, ajudam a desenvolver o povo guineense ou ajudam a salvar a vida de uma criança… São gestos tão marcantes que nos acompanharão muito para além do espaço e do tempo.
Verificamos que na vossa sociedade civil se tem operado uma grande mudança no aspecto juvenil do desenvolvimento. A nova geração está a assumir as responsabilidades com qualidade: o prof Raúl Daniel nesta Escola/CESJ, o Leandro na COAJOQ, os jovens da Rádio da Região de Biombo e outras, a Francisca na AIDA, no Hospital Simão Mendes, o director da Clínica de BOR preocupados com a honestidade no trabalho (eliminando as cunhas), a limpeza, a higiene e a dedicação…
O nosso olhar é de esperança. Apenas faço algumas referências  a exemplificar:
- O projecto da Visão, liderado pelo Dr. Luís Gonçalves. A partir da Cumura, não só pelas maravilhas que aí realizam, recuperando a vista a muita gente, mas sobretudo que ele possa ajudar a formar oftalmologistas guineenses para servir as populações e não apenas os interesses pessoais…
- O projecto do barco-ambulância ainda por concretizar…
- O projecto de Parceria com a AIDA (Ajuda-Intercâmbio-Desenvolvimento em Associação) para salvar vidas, recuperando a saúde a muitas crianças que vão a Portugal ser operadas…
- O projecto de desenvolvimento agrícola com a COAGRI em Quinhamel…
- Mais referências haveria para fazer…
Uma só conclusão: a Guiné tem futuro com a sua juventude.
Nós, na Fundação João XXIII, vamos também prosseguir a cooperação, com todo o sentido das nossas responsabilidades e de acordo com as nossas possibilidades.
Teremos sempre bem presentes dois grandes desejos muito fortes:
um para vós e outro para nós.
·         A vós desejamos que tenhais condições para continuar a atender, prioritariamente, as necessidades mais prementes.
·         E a nós desejamos que, a partir da aprendizagem convosco, saibamos realizar, algo de semelhante, em Portugal, ao que vem sendo realizado aqui;
na verdade, as nossas perspectivas económicas e sociais, particularmente no que se refere ao desemprego, são pouco animadoras, e convidam-nos a descobrir caminhos diferentes dos  percorridos até agora.
Termino com uma referência especial à nossa retaguarda em Portugal:
·         Primeiro: gratidão, um grande «BEM-HAJAM» a todos os voluntários que já fizeram esta experiência de virem à Guiné e aos que, em acções de sensibilização em diversas escolas de Portugal divulgaram os projectos e sensibilizaram jovens e adultos para a solidariedade convosco; mas também aos muitos (já referidos na m/ 1ª comunicação) que na retaguarda nos têm ajudado a levar por diante esta luta pelo bem da «Casa comum», aqui na Guiné.
·         Segundo: a nossa muita gratidão aos nossos dois Delegados. Prof. Raúl Daniel e Leónico da Silva/DU a vós Obrigado! Obrigado! Obrigado!
·         Por último, não menos importante: agradecemos, especialmente aos nossos familiares, todo o apoio incondicional que nos prestam, o que nos permite ser voluntários e estar aqui convosco, a todos se estende o nosso Abraço.
Paz e Bem! Ámen!

 

ACREDITAR SEM TER VISTO

ELE NÃO ESTÁ AQUI. RESSUSCITOU

Cristo ressuscitou! É o pregão destes dias da Páscoa… E felizes os que acreditam sem terem visto!
Mas a Páscoa é um apelo a olhar para Jesus que nasceu em Belém e cresceu em Nazaré. Dedica a sua vida a fazer o bem. Ensina-nos a viver como irmãos e a construir um mundo melhor, mais justo e solidário. Por causa das incompreensões e invejas dos seus contemporâneos, é julgado e condenado à morte. Entrega a sua vida voluntariamente e assim aproxima a humanidade e dá-nos a vida eterna. Deus o Pai de Jesus, aceita a sua entrega de amor e devolve-lhe a vida, ressuscita-O. É com esta certeza que apregoamos: Cristo Ressuscitou!... e celebramos a Páscoa, a sua passagem da morte à vida.
Os apóstolos foram as testemunhas da ressurreição de Jesus. Eles puderam ver o ressuscitado e por isso acreditaram. Caso típico é Tomé. Nós não temos esse privilégio. Nós somos felizes se acreditamos sem ter visto. Mas para que isso seja possível, os apóstolos deixaram-nos os evangelhos (Jo, 30-31). A participação na fé dos apóstolos nos dá a possibilidade de «amar Cristo sem tê-lo visto» e de «acreditar n’Ele (como Senhor e fonte da nossa glória futura) embora ainda não O vejamos» (1Pe1,3-9). Acreditamos também na comunidade que, nessa fé, os apóstolos fundaram: comunidade de oração e de vida, envolvidos na comemoração de Cristo na «fração do Pão» e na comunhão de bens, repartindo em si. Pois para ser fiel a Cristo não basta rezar e celebrar; é preciso fazer o que Ele fez: repartir a vida com os irmãos. Nós acreditamos na Fé dos Apóstolos e da Igreja que eles nos deixaram. Assim a nossa Fé não é uma coisa privada. É apostólica e eclesial.
A Fé dos apóstolos exige de nós que acreditemos no seu testemunho sobre Jesus morto e ressuscitado ou seja que adiramos à mesma Fé. Exige também que pratiquemos a vida de comunhão fraterna na comunidade eclesial, que brotou da sua pregação. 

FELIZ  PÁSCOA !!!
JESUS RESSUSCITA PARA NOSSA SALVAÇÃO
 
Pe.  Batalha

 

UM DE ABRIL, EXPERIENCIAS E DESAFIOS, MIL

para pensar, ver, aprofundar… agir.

No sábado, em Ribamar da Lourinhã, muitos amigos se juntaram à volta da economia solidária, que se alarga e bebe nas fontes da sociedade em rede, hoje, também movimento dos bens comuns colaborativos.

A ideia dos comuns, sendo complexa, à primeira vista, pensando um pouco, torna-se mais clara.
Nesse dia percebemos que somos a pessoa comum que existe e troca, dá e recebe, semeia e partilha bens comuns - pensamentos e ideias, pontos de vista e afectos, questões e experiências, descobertas e sugestões… tendo como referência a aldeia, os velhos baldios, o bairro, a vila, a cidade - o território largo da natureza - mãe terra, com todos os recursos inesgotáveis que são de todos os vivos.
Empreendemos uma redefinição de conceitos que vão além do que aprendemos e da mentalidade materialista que sobressai, centrados na energia e na consciência que nos movem, como respiração que nos mantêm vivos, despertos, criativos e inovadores…

Alguém escreveu: “Se continuamos a sonhar, é porque a criação ainda não terminou.”

Com essa energia recebida / transmitida, continuamos a alargar a onda da economia solidária, na perspectiva do bem comum colaborativo e do trabalho cooperativo solidário - sabendo que dele todos podemos usufruir.
A. Pinto
 
 
 
 

 



2º. ENCONTRO DA ECONOMIA SOLIDÁRIA

CARTA DE RIBAMAR


Com a presença de 70 pessoas decorreu, ontem, dia 1 de Abril,  o 2º Encontro da Economia Solidária, na Casa do Oeste, onde foram debatidos com grande vivacidade e forte participação: “DESAFIOS DE HOJE - COMPREENDER O MUNDO / AGIR NO MUNDO”.
A encerrar os trabalhos foi lida e apresentada, como proposta, aos presentes para que fique como documento desafiador e compromisso de ação a CARTA DE RIBAMAR…que vai ser enviada a todos os presentes que poderão, ainda,  sugerir alterações e acrescentos para que o texto final seja verdadeiramente uma CARTA ORIENTADORA DE AÇÃO:

“Considerando que os Desafios que hoje se nos colocam nos domínios económico, social e cultural exigem que os compreendamos e que os enfrentemos com conhecimento, racionalidade e determinação;

Considerando que situações anteriores provaram que o desconhecimento e o desinteresse face aos sucessivos desafios permitem e incentivam a ação oportunista dos poderes financeiros, sem qualquer sensibilidade social, em gravoso prejuízo dos interesses da esmagadora maioria das populações, nomeadamente dos mais desprotegidos;

Considerando que, como fundamento da liberdade de falar e crer, da justiça, da paz e da proteção dos recursos naturais, é essencial a proteção dos direitos inalienáveis e da dignidade das pessoas;

Considerando que é indispensável libertar as pessoas, nomeadamente as mais desprotegidas, do medo e da miséria para que não sejam compelidos, em supremo recurso, à revolta contra a tirania e a opressão económica e social;

ENCONTRARAM-SE VOLUNTARIAMENTE EM RIBAMAR – LOURINHÃ, a 1 de Abril de 2017, com iniciativa e organização da Fundação João XXIII-CASA DO OESTE, dos AMIGOS DE APRENDER, da Cooperativa TERRA CHÃ de Rio Maior, do Centro de Desenvolvimento Comunitário do LANDAL, Caldas da Rainha e da CASA DO SAL da Figueira da Foz, várias dezenas de pessoas atentas e interessadas a e na realidade que nos cerca, com o objetivo de, livremente, a debater e contribuir com ideias e ações que a alterem e melhorem.
Assim, com a preciosa colaboração de conceituados especialistas e companheiros com vasta ação efetiva no terreno, os presentes analisaram e discutiram, em plenário ou em grupos de trabalho:
  - OS DESAFIOS DE HOJE - COMPREENDER O MUNDO

 - GENTE NO TERRENO (INICIATIVAS, EXPERIÊNCIAS e PRÁTICAS em Miro – Penacova, Lousã, Vale da Trave)

 - AGIR NO MUNDO (INOVAÇÃO SOCIAL, DEMOCRACIA, PODER, ÉTICA DAS/NAS ORGANIZAÇÕES, REPENSAR O TRABALHO, bem escasso, EDUCAÇÃO, DESENVOLVIMENTO, APRENDER NA VIDA, BENS COMUNS, COMUNIDADES e REDES COLABORATIVAS)

  - PARA QUE MUNDO VAMOS? POR ONDE VAMOS? COMO VAMOS?

-  DESAFIOS E OPORTUNIDADES.

Por considerarem que a realidade atual necessita com urgência de alteração que a ponha mais de acordo com os valores fundamentais da humanidade e  das necessidades das populações,  os participantes comprometeram-se em divulgar o espírito e as ações debatidas, bem como agir junto dos seus grupos naturais com o objetivo de cada vez mais se criar uma conceção comum de intervenção na sociedade, bem como invocar e defender os seus direitos e os das pessoas sempre que a situação o exija. “

Ribamar, 1 de Abril de 2017