OS PREÇOS DOS PRODUTOS AGRICOLAS NO OESTE E A SOBREVIVÊNCIA DOS AGRICULTORES

No âmbito da preparação do Encontro de Agricultores  do Oeste com o Sr patriarca, no próximo dia 12 de março, no Teatro Eduardo Brazão, no Bombarral voltamos a publicar um texto sobre uma atividade com agricultores que decorreu o ano passado na Casa do Oeste.

"Integrado na Festa anual da Família Rural, conforme programação já habitual da Fundação João XXIII, decorreu dia 18 de Maio na Casa do Oeste em Ribamar da Lourinhã, um colóquio subordinado à temática seguinte ” os preços dos produtos agrícolas no Oeste e a sobrevivência dos agricultores”

O número de participantes ultrapassou as 50 presenças. O tema de enquadramento da agricultura portuguesa na perspetiva do mercado interno e da exportação foi apresentado com algum detalhe pelo Eng.º Paulo Monteiro, responsável pela Delegação Regional do Oeste da Direcção Regional de Agricultura e Pescas de Lisboa e Vale do Tejo.

Percebeu-se que não há uma economia forte sem uma agricultura forte. Registámos que a produção vegetal em percentagem do PIB andará por 1,87% e na produção animal 1,35%. Quanto ao Valor Acrescentado Bruto de Portugal=VAB Agrícola valores na ordem de 1,43% quando na Espanha é 2,47%. E que a partir de 2006 o “consumo intermédio” com o aumento dos valores do petróleo, dos fitofármacos e adubos, entre outros factores de produção, interferiu no VAB provocando a sua descida, mais acentuada na produção animal. (caso dos preços para as matérias primas para as rações)

Pela apresentação da conta de exploração tipo dos frutos frescos, confirmou-se, aquilo que a realidade atual não esconde: “que os custos de produção tomam conta dos lucros”.

O Eng.º Paulo Monteiro desenvolveu também um pouco os fatores críticos de sucesso:

condições edafo-climáticas/excecionais em épocas especificas, (criando janelas de oportunidades concorrências óptimas com outros países e mercados, especialmente na horticultura). Portugal em relação ao resto da Europa dispõe em média de mais três meses e em relação à Espanha de 4 meses, em virtude das temperaturas excessivamente altas no Verão em Espanha que comprometem a produção. Outras condições: a existência de água, o domínio do conhecimento cientifico-tecnológico; as estratégias de acrescentar valor à produção; a estrutura de custos; as estratégias de diferenciação / exploração de nichos de mercados e a concentração de oferta / economias de escala, que poderá ainda se muito potenciada.  

Deu muito enfase ao fator concentração de oferta e economia de escalas, ou seja em termos de organização do sector Portugal continua longe das médias Europeias.

Informou que no caso das exportações de frutos frescos Portugal cresceu 12 % e as hortícolas 8,4%.

A terminar a interessante conferencia, referiu certas ameaças à agricultura portuguesa, com a concorrência na U. E, os acordos na Bacia mediterrânica, a concentração a jusante da fileira, pressionando os preços face ao fraco poder negocial dos pequenos agricultores e reconhecendo que acabará por ser mais fácil importar os produtos agrícolas do que trabalhar    e valorizar a produção nacional.

No período de debate, a participação dos agricultores foi grande e intensa com realce e convicção da importância da necessidade da agricultura para a sobrevivência humana. Daí que o modelo só será sustentável e respeitador da igualdade humana se se atendar também à economia local.

Em face de debate foi apresentada uma reflexão/resumo de um  encontro de agricultores no Valcovo (Bombarral) para preparação deste colóquio:

“Após a entrada de Portugal na CEE, a agricultura Portuguesa e em especial a do Oeste sofreu grandes alterações por forma a tornar-se mais produtiva e mais competitiva.

A necessidade de aumentos de produtividade e de baixa de custos de produção, levou a que a maioria dos agricultores optasse pela monocultura, como é o caso da pera rocha.

Os produtores fizeram um grande esforço para produzir mais, aumentando as áreas de produção, utilizando técnicas de cultivo que levaram a um grande aumento de produtividade, aumentaram muito a mecanização e o regadio, no entanto a monocultura e a intensificação, leva a uma baixa de qualidade dos produtos. Fomos perdendo algumas das características diferenciadoras dos produtos da nossa região, como é o sabor.

O comércio também se alterou radicalmente, passámos de mercados locais e pequenas mercearias para grandes cadeias de distribuição e um mercado global. O consumidor tem disponíveis durante todo o ano todos os tipos de produtos, deixámos de ter os produtos da época, os primores. Temos uvas, melão, ameixas e a maioria dos produtos sempre disponíveis para o consumidor, o que parece uma coisa maravilhosa, veio alterar muito a relação entre o consumidor e o produtor nacional.

A grande distribuição alterou radicalmente a relação de forças entre a produção e o comércio. Portugal tem meia dúzia de cadeias de distribuição, que dominam cerca 80% do comércio agro-alimentar e que lhes confere uma capacidade negocial muito grande. A produção também se organizou em OP’s (organizações de produtores), cooperativas e sociedades comerciais, mas não conseguem ter dimensão para conseguir melhorar a sua capacidade negocial com a grande distribuição. Este desequilíbrio de forças levou a uma baixa de preços a pagar á produção, mas o consumidor não paga menos, pelo contrário, os preços estão exageradamente altos nas prateleiras dos supermercados conforme os exemplos referidos:

Pera rocha: custos de produção – 0,28

                      Preços à produção – 0,11 e os 0,15

                     Preços médios nos híper – 1,30 / 1,80

Batata: Custos de produção – 0,15 a 0,20

Preços à produção actualmente 0,20 mas na campanha passada foi 0,05

Preços nos híper – 0,50 a 1,00

Vinho: custos de produção – 0,20

Preços à produção – 0,14 a 0,20

Preços ao consumidor – 1,00

A produção tem de ter a capacidade de manter e melhorar a qualidade dos nossos produtos, termos cada vez mais produtos certificados, para conseguirmos uma diferenciação junto dos consumidores.

Lembrando uma citação do Papa Francisco na exortação “A alegria do Evangelho” : “uma economia que mata”.

Foram abordadas, ainda, pelos presentes outras questões como as sementes transgénicas; os pousios e a utilização de  boas áreas para produção de eucaliptos; a nova lei da simplificação das áreas de plantação de espécie de crescimento rápido; as áreas de agricultura convencional em territórios confinantes com produções biológicas que acabam por invadir com os seus produtos a concepção natural de  pomares de produção biológica.

De maneira transversal a todos, a preocupação dos preços baixos dos produtos, que  preocupa e angustia tanto mais velhos como mais novos, estando em  risco eminente, de pequenos agricultores do oeste, falirem e muitos jovens empresários perderem o interesse pelo sector, daí que a solução passe pelo debate forte, conclusivo e virado para a ação."