O ISLÃO – Aspetos culturais e religiosos…conhecer para compreender

No passado sábado, dia 25 de Março, realizou-se na Casa do Oeste uma conferência / debate dirigida pelo Dr. Paulo Mendes Pinto, professor da universidade Lusófona, subordinada ao tema: “O ISLÃO – Aspetos culturais e religiosos…conhecer para compreender”.
A conferência foi particularmente importante para desmistificar muitas das falsas notícias – ou pior do que isso, meias-verdades – com que somos diariamente presenteados pela nossa imprensa, nomeadamente a mais sensacionalista.
O orador referiu que, como todos sabemos, o Islão é uma religião monoteista, que tal como o Cristianismo tem a sua origem no Antigo Testamento e uma das figuras centrais do Islão é, precisamente, Maria, Mãe de Jesus. O próprio Jesus, que é sempre referido como filho de Maria, é um dos Profetas mais importantes para os Muçulmanos. Há, por isso, do ponto de vista teológico, muitos pontos de contacto entre a religião cristã e o islão.
Então, se Jesus e Maria são duas figuras centrais do Islão e se muitos dos princípios consignados na sua mensagem são muito próximos (com algumas diferenças, naturalmente, significativas) como é possível que, em nome do Islão, seja aceite O TERRORISMO e que muitos dos seus seguidores o incentivem?

 Para dar resposta a estas questões o orador enquadrou historicamente os terríveis acontecimentos que temos vindo a testemunhar no Médio Oriente de onde são oriundos a esmagadora maioria dos refugiados dos quais, muitos milhares, como sabemos têm morrido no Mar Mediterrâneo.

Os problemas que estamos a viver hoje, de acordo com o orador, têm a sua origem na queda do Império Otomano e, mais recentemente, na desagregação dos diversos países da região do Médio Oriente com a “primavera” árabe.

Os permanentes conflitos existentes na região, a invasão do Iraque e a desagregação da Síria, promovida, em grande parte pelas potências ocidentais, (ninguém consegue perceber porque é que os Sírios sendo um povo pacífico, desenvolvido, com níveis muito bons de educação, saúde, emprego, de um momento para o outro vê as suas principais cidades destruídas e atirados para a miséria), originaram por parte das populações do Médio Oriente um sentimento de crescente ressentimento contra o Ocidente, o qual têm sido aproveitado, quer em termos políticos, quer, principalmente em termos religiosos por alguns líderes religiosos.

Foram referidos dois aspetos que potenciam esta realidade:
1 – Por um lado não há  uma entidade que unifique os diversos grupos muçulmanos…
2 – Por outro lado, perante toda a instabilidade existente (de guerra quase permanente) verificou-se um enorme aumento da prática religiosa.

Então é esta a principal causa do terrorismo, nomeadamente na Europa? Não.
Estas são as razões pelas quais os muçulmanos, e talvez com razão, estão cada vez mais ressentidos com o Ocidente, (eventualmente incentivados por alguns dos líderes daqueles grupos) por um lado e estão eles próprios com alguma falta de sentido para a vida  - deixando-se instrumentalizar mais facilmente por esse motivo - face às enormes privações e atrocidades de que são alvo diariamente…

 Na conferência foi ainda referido o papel dos fabricantes de armas…..os únicos que verdadeiramente têm tudo a ganhar com situações como as que se passam no Médio Oriente,(segundo dados da revista The Economist de 2015 em 2008, dos 20 maiores fabricantes de armas 14 são americanos, 2 Ingleses, 1 Francês, 1 Russo, 1 Italiano e 1 da União Europeia).
Na conferência foram ainda divulgados alguns dados que, falam por si da dimensão desta catástrofe humana no Médio Oriente:
1 – Só na Síria devido à guerra civil já morreu mais de 1 milhão de pessoas…no Iraque o número de civis que morreram devido à invasão dos EUA até 2008 já era superior a 1,2 milhões…
2 - Só a Alemanha já recebeu cerca de 1 milhão de refugiados (a maior parte dos quais da Síria…)…
3 - Só no mediterrâneo já morreram mais de 10 000 pessoas nos últimos 4 anos (só em 2015 morreram cerca de 3 700 pessoas e em 2016 mais de 3 800 pessoas).
E, os atentados?
Quantas pessoas morreram em atentados terroristas na Europa nos últimos 4 anos? O número de mortos, apesar de nos aterrorizar a todos, é inferior a 300…..e…..90% desses atentados de terroristas na Europa foram efetuados por…. INDIVIDUOS DE  ORIGEM OU COM RESIDÊNCIA HÁ VÁRIOS ANOS NA EUROPA.…onde vivem atualmente mais de 15 milhões de Muçulmanos só em três países: França 8 milhões; Alemanha 5 milhões e Reino Unido 3 milhões.
E, nós cristãos/ocidentais, vamos continuar a pensar que os refugiados são “um perigo”? E que os muçulmanos são todos “terroristas”? ou, afinal, que os muçulmanos, são, na sua generalidade, tão humanos como nós, muitas das vezes mais religiosos e crentes do que nós, cumprindo os preceitos religiosos e culturais com grande rigor…que importa conhecer com mais profundidade para compreender e não fazer juízos apressados e generalistas.

Manuel Azenha.



2º ENCONTRO DE ECONOMIA SOLIDÁRIA

Vai realizar-se na próxima sexta-feira e sábado,  dias 31 de março e 1 de Abril, o 2º Encontro de Economia Solidária, na Casa do Oeste subordinado ao tema:

  DESAFIOS DE HOJE – COMPREENDER O MUNDO/AGIR NO MUNDO

 “Primeiro, eles ignoram-te. Depois, riem-se de ti. Depois, combatem-te. Depois, tu vences”. Bunker Roi (Aldeia da Tilónia, India)

 O mundo está em grandes e rápidas mudanças e infelizmente, muitas delas causam-nos grandes preocupações…sobretudo porque põem em causa alguns princípios e orientações  que considerávamos  adquiridas e consolidadas. Se é certo que muitos avanços se têm verificado ao nível do conhecimento, da tecnologia, da irradicação de alguns males que afligem o mundo: fome, subdesenvolvimento, pobreza, acesso á educação e á saúde, também é verdade que aumentam os contrastes entre ricos e pobres, que há uma grande dominação/exploração pelos sistemas financeiros, pelos mercados, pelo capital que se concentra em, cada vez menos pessoas, alguns empregos escandalosamente pagos em contraste com os salários sofríveis da maior parte dos trabalhadores, que se acentuam os atropelos nos direitos dos trabalhadores e que estamos perante uma escalada de regras e princípios liberais, sem qualquer pudor e controle regulador.
Mas estão a surgir novos caminhos, experiencias inovadoras, redes colaborativas, banca ética, instituições com princípios de economia solidária… 
SÃO, POR ISSO, GRANDES OS DESAFIOS DE HOJE.
Neste encontro vamos escutar alguns  especialistas (os professores universitários: Carvalho da Silva e José Fialho) que farão uma análise à atual sociedade e nos lançarão alguns desafios para o futuro que começa agora
Vamos  ouvir o relato de experiencias, práticas de gente que está no terreno:
·         Uma aldeia em modo colaborativo - Miro (Penacova). - Manuel Nogueira
·          Desenvolvimento do e no local - ActivarLousã -  Fernanda Vaz
·          Baldios do Vale da Trave - Um caso de economia solidária - Luís Ferreira
Teremos discussões em grupo sobre temas da maior atualidade…
PROGRAMA
·         Sexta - Feira / 31 de Março  - Oficinas -“ Faz, Tu Mesmo” (das 18,30h às 20,30h)
  - Fazer Pão - Bernardino Jorge
  - Horta na Varanda - Carlos Fernandes
  - Escrita Criativa - José M. Vieira
·         Sábado, 1 de Abril. 2017
9,30h - Enquadramento - DESAFIOS DE HOJE - COMPREENDER O MUNDO
              M. Carvalho da Silva (professor e investigador)
10,30h - GENTE NO TERRENO - INICIATIVAS - EXPERIÊNCIAS - PRÁTICAS
                   . Uma aldeia em modo colaborativo
                   . Desenvolvimento do e no local
                   . Baldios do Vale da Trave - Um caso de economia solidária
11,30h - AGIR NO MUNDO - Questões que se nos levantam
Grupo 1. INOVAÇÃO SOCIAL - Pedro Pinto
Grupo 2. DEMOCRACIA, PODER, ÉTICA DAS/NAS ORGANIZAÇÕES - António Chiquita
Grupo 3. REPENSAR O TRABALHO, bem escasso - Américo Monteiro
Grupo 4. EDUCAÇÃO, DESENVOLVIMENTO, APRENDER NA VIDA – Julio Ricardo
Grupo 5. BENS COMUNS, COMUNIDADES e REDES COLABORATIVAS - José João
13,00h - Almoço
14,30h - INTER - ACÇÃO A PARTIR DAS CONCLUSÕES DE GRUPOS
              . Como é que o mundo nos compreende?
              . Como queremos ser compreendidos pelo mundo?
16,00h - ESPAÇO E VOZ DE OUTRAS ORGANIZAÇÕES - O que levo deste dia…
17,15h. - PARA QUE MUNDO VAMOS? POR ONDE VAMOS? COMO VAMOS?
                 José Feliciano Fialho (professor e investigador)
                * DESAFIOS E OPORTUNIDADES - Carta de RIBAMAR

Organização: Fundação JOÃO XXIII - CASA DO OESTE / AMIGOS DE APRENDER / Cooperativa TERRA CHÃ (Rio Maior) / Centro de Desenvolvimento Comunitário do LANDAL (Caldas  da Rainha) / Casa do Sal (F. da Foz).

A.L.

O ISLÃO: ASPECTOS CULTURAIS E RELIGIOSOS…CONHECER PARA COMPREENDER

 Amanhã sábado, dia 25, realiza-se na CASA DO OESTE um JANTAR/CONFERÊNCIA  para abordar uma questão muito atual e que a muitas pessoas preocupa.

O conferencista será o professor Paulo Mendes Pinto, da área de Ciência das Religiões da Univ. Lusófona e diretor do Instituto Al-Muhaidid de Estudos Islâmicos-

 Com os atentados terroristas (muitos deles atribuídos a indivíduos muçulmanos) e com o acolhimento na Europa  de refugiados de países maioritariamente de religião islâmica são muitos os receios e anticorpos relativamente ao acolhimento destas pessoas.

 O Papa Francisco respondendo ao apelo das organizações humanitárias e traduzindo para os nossos tempos concretos a mensagem evangélica, pede que cada paróquia e cada instituição da igreja acolha uma família.

 Algumas famílias e instituições do oeste (é o caso da nossa Fundação João XXIII) estão a acolher famílias de refugiados  de países árabes em guerra.
Esta CONFERÊNCIA é um contributo para melhor se conhecer, compreender e apoiar estas pessoas.
Algumas questões que estão subjacentes ao tema da CONFERÊNCIA:
- Queremos conhecer os aspetos culturais e religiosos fundamentais, de que os muçulmanos não abdicam, para compreender melhor as pessoas acolhidas e não criar graves suscetibilidades…
- Entre as sociedades de religião  maioritariamente católica e islâmica o que mais nos pode aproximar ou afastar.
- Como fazer pontes, como religare?
- Estas oportunidades de conhecimento, de diferentes aprendizagens e de partilha serão um contributo efetivo para um mundo mais próximo, mais tolerante, mais pacífico?
- O islamismo: uma religião que gera fundamentalismos e alimenta costumes anacrónicos?
- Verdades ou preconceitos: islamismo é caminho  para o terrorismo? O islamismo dominará a europa num futuro muito próximo?  Acolher refugiados vindos de países muçulmanos é acolher potenciais terroristas?
- O mundo ocidental tem que permitir e aceitar publicamente e em termos de organização social, todos os usos e costumes muçulmanos: indumentária, horários para as preces, relação homem/ mulher, etc 
Aqui ficam algumas questões que dão pano para mangas!
A.L.

 

 

 

INTERVENÇÃO DA FUNDAÇÃO

1ª Conferência sobre 25 anos de solidariedade Fundação João XXIII na Guiné.
 Lema: «Si bu na bulido costa, buli barriga» - Se alguém te ajudar, não fiques de braços cruzados.

 Intervenção  na conferência do Pe Batalha em nome da Fundação:

 “Paz e Bem, Alegria e saúde também a todos os presentes.
Queremos em primeiro lugar dizer “Deus Obrigado” por nos ter enviado à Guiné;
 e depois queremos dizer a vocês “Obrigado! Obrigado! Obrigado” pela vossa hospitalidade.
Pelo carinho e alegria com que nos acolheis sempre que vimos.
Obrigado! Obrigado Raúl não só pelo que fazes pelo teu povo, mas também por esta iniciativa da CONFERÊNCIA sobre os nossos 25 anos de solidariedade convosco.
Desde há 25 anos que percebemos que nós não vimos fazer mais do que criar laços de amizade e colaborar convosco naquilo que precisais da nossa ajuda, fazendo-nos companheiros na viagem do vosso desenvolvimento, com o Espírito do Evangelho no seu mandato missionário das obras de misericórdia e das bem-aventuranças.
O vosso testemunho de amizade, de alegria, de trabalho e desenvolvimento cultiva em nós esta solidariedade.
Não vimos à Guiné fazer negócios nem fazer turismo, vimos com o nosso voluntariado apoiar os vossos projetos de desenvolvimento local:

- Nós vimos nascer, crescer e desenvolver a Cooperativa Escolar de São José. Pela mão do Pe Casal Martins ofm, pároco de Bandim, em 1991, foi apresentado ao Grupo Solidários o projeto da Cooperativa Escolar de S. José de Mindará, informando de que se tratava de uma iniciativa de gente local muito válida que merecia e precisava de apoio. A partir daí fomos cooperando com os vossos sonhos, multiplicando em Portugal a solidariedade de muitas e muitas pessoas e instituições
- A iniciativa nasceu de poucas pessoas, que não dispunham de recursos financeiros. Contudo integrava-se na Fundação João XXIII, orientada por um forte espírito de serviço a favor do desenvolvimento de populações com base rural. Foram-se agregando outras pessoas, com as mesmas características básicas, sem acesso a apoios do Estado. O trabalho prestado por todas elas foi gratuito, assegurando o próprio pagamento das suas viagens. Deste modo, eleva-se a algumas centenas de pessoas que já participaram nesta missão de solidariedade, cada uma presta o seu serviço de acordo com as respetivas qualificações profissionais e outras capacidades de que disponha.
- A nossa Fundação não tem riqueza económica nem financeira. É uma Fundação pobre, mas é ao mesmo tempo muito rica. A sua grande riqueza é a solidariedade de muitos.
O nosso envolvimento na Guiné já dura há mais de 25 anos porque todos os que trabalham nesta solidariedade convosco o fazem voluntariamente e sem esperar qualquer recompensa monetária.
Temos em Portugal muitas pessoas individuais e muitas empresas que nos dão coisas e dinheiro e trabalho voluntário para ser possível apoiar os projetos onde nos temos envolvido ao longo destes anos convosco:
* Aqui em Bissau com a Cooperativa Escolar de São José;
* Em Ondame com o Centro materno infantil “Bom Samaritano; com  a EducArte cooperativa de educação; com a Biblioteca da Fundação; com a Rádio Comunitária N’Djerapa.Có de Biombo; o Infantário de Bissá;
* em Bloom com o Padre Ernesto que está a fazer uma escola profissional, agrícola e de manutenção de alfaias;
* em Canchungo apoiámos a cooperativa de jovens agricultores COAJOQ;
* em Quinhamel  ajudamos a criar a COAGRI cooperativa agrícola com 9 jovens e que já agregou a si mais de 60 mulheres que sustentam as suas 60 famílias;
* Ainda aqui em Bissau apoiamos a Casa Emanuel, orfanato, tanto na área da saúde como na educação;   
* Apoiamos um Centro de reabilitação física; o  Orfanato  Bombarem;  e o  Hospital de Cumura (nomeadamente com o projeto Visão/Guiné);
* Apoiamos AIDA que é uma ONG que dá apoio ao Hospital central Simão Mendes  e coordena em parceria connosco o projeto de famílias de acolhimento em Portugal;                                                                                         
* em Nhoma apoiamos a irmã Valéria com o seu novo centro materno infantil;
* em Ponta Gardete, o complexo escolar de surdos-mudos com o autocarro que agora trazemos (O Bojador) e equipamento que há de chegar no contentor.


 Desde o início foi entendido que o trabalho, na Guiné, seria orientado pelas populações e líderes locais, recebendo a cooperação das equipas da Fundação João XXIII.
Faz, por conseguinte, todo o sentido o lema desta «1ª Conferência sobre os 25 anos de Solidariedade da Fundação João XXII/Casa do Oeste na Guiné-Bissau» - «Se Alguém te ajudar não fiques de braços cruzados » -
O trabalho realizado pelas populações guineenses e seus líderes justifica o nosso mais alto apreço, devido à união de esforços que o animou, aos resultados conseguidos,  bem como à prioridade que soube dar às necessidades básicas. Quando vemos os projetos vingarem, as pessoas locais empenharem-se neles, beneficiarem e terem uma vida mais digna, ficamos felizes.
Felizes porque decidimos pôr os pés ao caminho na direção dos que precisam, felizes porque vencemos o comodismo e a indiferença entrando na estrada do bom samaritano… Felizes porque acreditamos que não há futuro sem solidariedade, que não há futuro sem caridade e que não há esperança sem que cada um dê alguma coisa de si. Tudo isso dá-nos imensa alegria e entusiasmo para continuar a missão.
Então, para desenvolver todos estes apoios,  o que fazemos em Portugal?
A Fundação tem uma Equipa Coordenadora da Solidariedade com a Guiné cujos membros vêm ao meio de vós colher os vossos projetos e respetivas necessidades.
Reunimos uma ou duas vezes por mês para analisar os vossos pedidos. Para organizarmos os pedidos a fazer e as recolhas a efetuar, campanhas a mobilizar… e para organizarmos as vindas de Grupos de voluntariado à Guiné e decidirmos e preparamos a vinda de contentores. 
São centenas os solidários da retaguarda com os seus apoios.
Por isso há um grupo de voluntários que semanalmente faz recolha de todo o tipo de materiais, desde o papel e cartão para reciclagem, roupas, livros, móveis, etc… o que é bom e útil para vos trazer.  Muitas outras coisas vendemos para fazer dinheiro para pagarmos as despesas dos contentores que nos custam cerca de 5.000 € cada um. Não basta que nos dêem as coisas. Trazê-las sai caro. O despacho e desalfandegamento aqui na Guiné e o seu respetivo transporte para o local da descarga.
Os apoios prestados à «Solidariedade com a Guiné» são muitos e concretizam-se de formas tão variadas como: organização de festas e convívios, jantares de solidariedade, venda de rifas, organização de bazares pelo Natal e no Verão, campanhas para angariação de fundos por grupos paroquiais de catequese, agrupamentos de escuteiros…todos com o objetivo concreto de comprar, por exemplo, um carro, um trator, uma ambulância, ou comprar cimento, ferro e chapas metálicas a trazer para edificação duma escola ou de um centro de enfermagem…
Existem entidades públicas, designadamente escolas e hospitais, mas também Câmaras Municipais, Tribunais… que têm doado muitos móveis e equipamentos por motivos de modernização.
E muitos bens doados por pessoas, instituições e empresas do nosso país, sendo os materiais de construção, a roupa, o material escolar, o mobiliário, os medicamentos e os carros, os mais significativos.
São, contudo, as ofertas monetárias mensais de alguns amigos, as receitas dos eventos que se organizam e dos bazares que se fazem que vão permitindo o envio regular de todos estes bens para a Guiné… Quantos anónimos que nos entregam dinheiro: 10, 50, 100, 200, 500 euros e até mais… A título de exemplo a transinsular responsabilizou-se por meia dúzia de contentores, a Bombóleo-Central Diesel que todos os anos suporta um frete marítimo dum contentor.
Mencionar nomes de amigos desta «Solidariedade com a Guiné» é sempre um risco de esquecer alguns, quando se sabe que são muitas as pessoas, empresas e entidades envolvidas nesta cadeia de solidariedade:
- Empresários e estabelecimentos na área da construção civil que ofereceram muitos materiais, como sanitários, ladrilhos, mosaicos, ferro, cimento, madeiras…
- Laboratórios farmacêuticos e farmácias que doam, sobretudo, medicamentos, mobiliário hospitalar e material de enfermagem…
- Empresas de confeção de calçado que oferecem artigos de boa qualidade…
- Editoras, escolas e livrarias que doam imenso material escolar, livros, material informático e móveis…
- Pessoas e empresas que oferecem carros e diversos equipamentos agrícolas….
 Por fim, refiro a família Pedroso que ao longo destes anos nos tem cedido um armazém (no Sobreiro –Mafra) para recolher e guardar os bens doados à Fundação, destinados a esta solidariedade com o vosso país.
Em todo este empenhamento e entreajuda sobressai a alegria exuberante que todos sentem do dever cumprido e daquela afirmação de S. Francisco de Assis: É dando que se recebe.
Temos consciência de que temos feito pouco, dada a dimensão das vossas necessidades e problemas com que sois confrontados, mas sabemos que ajudando a desenvolverem-se estamos a estabelecer a justiça e a paz, estamos a contribuir para a vossa felicidade como povo irmão e amigo que nos acolhe de braços abertos.

 
 

Para terminar, não podemos deixar de referir algumas pessoas que nos têm marcado pela sua personalidade de guineenses:
·         Em primeiro lugar o 1º Bispo de Bissau, D. Settímio Ferrazetta, que alguns de nós conhecemos e que nos deu o testemunho da sua simplicidade, da bondade e da esperança no meio das tribulações, incutindo-nos a paixão pela Guiné, pelo seu acolhimento e pela sua doação ao povo que amou e serviu. Tinha o espírito e a simplicidade do Bom Papa João XXIII.  Ele é para vós um pai. Foi um grande líder prò desenvolvimento do país, pelo diálogo e pela paz.    
·         Fernando Cá, ilustre guineense (falecido há pouco mais de um ano, 10.12.2015) natural de Biombo que nós conhecemos emigrante em Lisboa. Foi a sua mão que nos indicou o caminho de Ondame e nos apresentou em 1992, o Régulo João Longa que nos cedeu terreno para instalarmos o Centro Social João XXIII que é sede da nossa Fundação. Fernando Cá criou a APRODEP, associação dos emigrantes guineenses em Portugal, dando apoio aos doentes idos da Guiné, - tanto em fornecimento de roupas, comida, como  auxilio na legalização, - organismo  a que presidia. Tinha um sonho para o desenvolvimento da sua região de Biombo que era criar um centro de formação agrícola. Faltando-lhe a saúde para o conseguir doou à nossa Fundação o terreno na chamada zona do Mar Azul, pedindo-nos para levar por diante esse seu sonho que é o desenvolvimento da agricultura de hortícolas que a Cooperativa Agrícola João XXIII/COAGRI, está a concretizar.

·         Duas outras figuras marcantes são o prof. Raul e o Du, Leónico da Silva – os dois Delegados guineenses  da nossa Fundação, com quem trabalhamos há muitos ano. O Du foi-se formando com o prof. Raúl na Cooperativa de S. José e hoje lidera a Cooperativa Agrícola João XXII/COAGRI em Quinhamel. O prof. Raúl a quem devemos esta CONFERÊNCIA, tem mostrado uma rara capacidade de líder pelo desenvolvimento cooperativo e de Diretor da Escola. É um exímio organizador de eventos, como muito bem exemplifica esta «1ª Conferência dos 25 anos da Solidariedade da Fundação João XXIII» Temos por ele uma grande admiração, pela capacidade de pôr a render todas as potencialidades.”


 

 

 

 

CELEBRAR OS 25 ANOS DE SOLIDARIEDADE – A FORÇA DO VOLUNTARIADO
No dia 7 de março chegou finalmente o Bojador a Bissau depois de muitas peripécias e de muitas horas de viagem.  Os 10 passageiros vinham cansados mas felizes por terem conseguido chegar ao destino depois de perfazerem 4600km. A noite foi longa e o serão muito animado contando as histórias e as aventuras do caminho aos restantes 8 elementos do grupo que os esperavam em Bissau desde o dia 2.
No dia 9 a manhã foi passada na Granja, cooperativa agricola João XXIII,  em Quinhamel, para entrega de diplomas às mulheres que ai trabalham e têm as suas hortas para sustentarem as suas familias. À tarde foi a entrega oficial do Bojador ao centro de deficientes. O Bojador transportou pela 1º vez crianças surdas até à escola que dista 15 km de Bissau.
No dia 10 realizou-se a  CONFERÊNCIA  para comemorar os 25 anos de solidariedade com o povo da Guiné.
PROGRAMA:
9,00h - Abertura solene
 -Astear das bandeiras (Guiné-Bissau e Portugal)  acompanhados com a  entoação dos Hinos dos 2 paises.
-Acolhimento
- Palavras de boas Vindas e abertura da conferência
-Animação cultural com o Grupo Cultural N´delugan, Musicos etc…
- Exibição do filme de curta metragem dos parceiros da fundação João XXIII
 Exposição dos projetos nos seguintes dominios : Saúde,Educação, Agricultura, Comunicação Social
- Depoimento de Fundação João XXIII
- Intervenções:
- Representante de Diocese de Bissau (Bispo de Bissau)
 Delegado da Fundação João XXIII na Guiné-Bissau
 Presidente da Fundação João XXIII
 Ministro de Plano e Integração regional
13,00h - almoço
13,30h- Sarau cultural
17,00h – entrega dos presentes e encerramento das atividades
17,30 - Missa
 
 
 
 
 
 

 
 
 
 
 
 

ENCONTRO DE APROFUNDAMENTO DA FÉ:
A POBREZA NA DINÂMICA DOS TEMPOS E DAS SOCIEDADES
 No 1º Domingo da quaresma - 5 de Março - cerca de 50 militantes e amigos da ACR,  reuniram-se, na  Casa do Oeste, para  aprofundar o sentido da sua Caminhada Quaresmal para a Páscoa.
Pretendendo rezar a vida, das comunidades representadas, os grupos de base partilharam: o seu  olhar e reflexão sobre algumas  das realidade problemáticas das suas comunidades. Partilharam também como é que os grupos têm procurado ser "Igreja em saída", ao encontro dos mais pobres e que ajude a dar passos rumo a uma Ecologia Integral, como nos propõe o Papa Francisco.
Dessa partilha destaco o seguinte «O nosso agir é frequentemente condicionado pela forma como julgamos os outros, sobretudo quando se trata de pessoas ou situações que são do nosso conhecimento local e pessoal, pois o mais fácil, para nada fazermos em ordem a resolver esses casos concretos, é fazermos o julgamento superficial e parcial das pessoas e dos problemas que temos pela frente, pelo que é importante que estas questões sejam refletidas em grupo, pois essa forma permite limpar dos nossos olhos "as palhas" que nos impedem de ver os outros com menos parcialidade e com mais clareza e fraternidade. Só o grupo nos poderá ajudar a estarmos atentos à gravidade da crise cultural, ecológica e aos nossos “maus hábitos”.
Os empenhamentos dos grupos passam por acções de solidariedade com famílias das suas comunidades; solidariedade com Guiné; colaboração com outras "organizações" no apoio a situações de carência, nomeadamente, "os sem abrigo", apoio a famílias de refugiados; participação e promoção de tempos de formação, tais como: Escola Paroquial, Círculos de Diálogo, etc….
Este tempo de quaresma é um tempo propício à conversão, a abrir o coração - à escuta de Deus e ao amor aos irmãos, principalmente os irmãos mais carenciados.
Neste Encontro olhámos com "profundidade" para a "Pobreza" - uma realidade constante na nossa História Humana - uma realidade que somos desafiados a transformar.
A socióloga,  Maria Engrácia Leandro (professora catedrática emérita da Universidade do Minho), presenteou-nos com uma  palestra seguida de debate onde se abordou  - A  origem da pobreza; a "pobreza na Bíblia"; a pobreza nas sociedades modernas.
 Muitas foram as ideias, as questões abordadas, não pretendendo fazer um resumo do que ouvimos e refletimos, partilho, apenas, alguns pontos da reflexão que para mim foram importantes:
Os estudos sociológicos fazem notar que os problemas de pobreza remontam ao neolítico, período em que os seres humanos deixaram de ser nómadas e passaram  a cultivar a terra ou seja pode dizer-se, de forma simplista, que a origem da Pobreza está na propriedade privada - na posse da terra.
O cuidado do "pobre" é uma questão que é referenciada na Bíblia desde o Antigo Testamento…O livro do Deuteronómio referencia três tipos aos pobres: Levitas (na sociedade judaica os que não possuíam terra; estrangeiros (emigrantes); as viúvas, os orfãos; e recomenda é preciso dar-lhes o auxilio de que precisam…
Já no Deutronómio se faz notar que mais que a "esmola" a ajuda ao pobre deverá passar pela justiça social.
O Profeta Amós foi um profeta muito perseguido no seu tempo, porque ele viveu numa época de grande esplendor para alguns, mas de grande miséria para outros. Ele denunciava a corrupção, a vida de luxo e isso não agradava aos poderosos…
No Livro do Êxodo é claro o sentimento de que " Somos um Povo - se todos somos um povo temos que cuidar de todos".
Com Jesus Cristo esta atenção ao "pobre" ganha nova expressão e são numerosos os episódios em que Jesus pratica e recomenda o "cuidar" do outro como irmão, como igual em dignidade.
A problemática da Pobreza ao longo da História da humanidade não acaba, vai é mudando para outros cambiantes.
Pode-se dizer que é na era moderna - sec XVIII, com a revolução industrial - que a questão da pobreza se agudiza…na era anterior em que a economia dependia da posse da terra, apesar das situações de grande pobreza havia "proximidade" da terra (campo) donde algum provento se poderia tirar; os proprietários das terras tinham deveres de protecção dos pobres…Na era da industrialização o êxodo das pessoas para as cidades cria situações de pobreza extrema - pauperismo - as pessoas trabalhavam em condições miseráveis; e há um "exército de desempregados".
Estas condições de miséria extrema conduzem também a situações de extrema violência.
A pobreza abrange a pessoa humana muito para além da questão da sobrevivência material, quebram-se os laços sociais, a pessoa em situação de pobreza, sente-se excluído da sociedade; são-lhe retiradas as oportunidades de ter um projecto de vida digna. "Todo o homem se define pelo seu projecto" - diizia Jean Paul Sartre.
Nas ditas sociedades democráticas - onde pela lei há direitos iguais para todos - as desigualdades sociais  são cada vez maiores. Há riqueza, mas muito mal distribuída. Mesmo com educação dita para todos, as oportunidades e possibilidades de "singrar" na vida  não são iguais para quem provém de famílias, bairros pobres ou para quem nasce em famílias com boas condições económicas.
São vários os documentos da Doutrina Social da Igreja que falam destas questões, e que apelam à Caridade verdadeira - solidariedade e justiça social, mas acções concretas são pouco representativas.
Deste olhar reflexivo sobre a realidade "Pobreza" fica-nos o grande desafio de nos esforçarmos ainda mais para sermos uma "Igreja em saída" que caminha com os "pobres" ajudando-os a adquirirem a sua dignidade humana. Dignidade que "lhes foi tirada"… Um autor cristão disse: o que se dá aos pobres, não é mais do que o que lhe foi tirado…
Não podemos ficar no pessimismo, temos de fazer apelo à esperança, mas não pode ser uma esperança esvaziada de sentido, há que com as pessoas criar pequenas acções que possam fazer a diferença na sua vida, promovendo a sua dignidade e integração na sociedade. Assim  trabalhamos por uma Ecologia Integral.
Porque é Cristo que nos alimenta e envia a ser "as mãos de Deus" neste mundo, terminámos o Encontro com a Celebração da Eucaristia.
Dina Franco Silva