INTERVENÇÃO DA FUNDAÇÃO

1ª Conferência sobre 25 anos de solidariedade Fundação João XXIII na Guiné.
 Lema: «Si bu na bulido costa, buli barriga» - Se alguém te ajudar, não fiques de braços cruzados.

 Intervenção  na conferência do Pe Batalha em nome da Fundação:

 “Paz e Bem, Alegria e saúde também a todos os presentes.
Queremos em primeiro lugar dizer “Deus Obrigado” por nos ter enviado à Guiné;
 e depois queremos dizer a vocês “Obrigado! Obrigado! Obrigado” pela vossa hospitalidade.
Pelo carinho e alegria com que nos acolheis sempre que vimos.
Obrigado! Obrigado Raúl não só pelo que fazes pelo teu povo, mas também por esta iniciativa da CONFERÊNCIA sobre os nossos 25 anos de solidariedade convosco.
Desde há 25 anos que percebemos que nós não vimos fazer mais do que criar laços de amizade e colaborar convosco naquilo que precisais da nossa ajuda, fazendo-nos companheiros na viagem do vosso desenvolvimento, com o Espírito do Evangelho no seu mandato missionário das obras de misericórdia e das bem-aventuranças.
O vosso testemunho de amizade, de alegria, de trabalho e desenvolvimento cultiva em nós esta solidariedade.
Não vimos à Guiné fazer negócios nem fazer turismo, vimos com o nosso voluntariado apoiar os vossos projetos de desenvolvimento local:

- Nós vimos nascer, crescer e desenvolver a Cooperativa Escolar de São José. Pela mão do Pe Casal Martins ofm, pároco de Bandim, em 1991, foi apresentado ao Grupo Solidários o projeto da Cooperativa Escolar de S. José de Mindará, informando de que se tratava de uma iniciativa de gente local muito válida que merecia e precisava de apoio. A partir daí fomos cooperando com os vossos sonhos, multiplicando em Portugal a solidariedade de muitas e muitas pessoas e instituições
- A iniciativa nasceu de poucas pessoas, que não dispunham de recursos financeiros. Contudo integrava-se na Fundação João XXIII, orientada por um forte espírito de serviço a favor do desenvolvimento de populações com base rural. Foram-se agregando outras pessoas, com as mesmas características básicas, sem acesso a apoios do Estado. O trabalho prestado por todas elas foi gratuito, assegurando o próprio pagamento das suas viagens. Deste modo, eleva-se a algumas centenas de pessoas que já participaram nesta missão de solidariedade, cada uma presta o seu serviço de acordo com as respetivas qualificações profissionais e outras capacidades de que disponha.
- A nossa Fundação não tem riqueza económica nem financeira. É uma Fundação pobre, mas é ao mesmo tempo muito rica. A sua grande riqueza é a solidariedade de muitos.
O nosso envolvimento na Guiné já dura há mais de 25 anos porque todos os que trabalham nesta solidariedade convosco o fazem voluntariamente e sem esperar qualquer recompensa monetária.
Temos em Portugal muitas pessoas individuais e muitas empresas que nos dão coisas e dinheiro e trabalho voluntário para ser possível apoiar os projetos onde nos temos envolvido ao longo destes anos convosco:
* Aqui em Bissau com a Cooperativa Escolar de São José;
* Em Ondame com o Centro materno infantil “Bom Samaritano; com  a EducArte cooperativa de educação; com a Biblioteca da Fundação; com a Rádio Comunitária N’Djerapa.Có de Biombo; o Infantário de Bissá;
* em Bloom com o Padre Ernesto que está a fazer uma escola profissional, agrícola e de manutenção de alfaias;
* em Canchungo apoiámos a cooperativa de jovens agricultores COAJOQ;
* em Quinhamel  ajudamos a criar a COAGRI cooperativa agrícola com 9 jovens e que já agregou a si mais de 60 mulheres que sustentam as suas 60 famílias;
* Ainda aqui em Bissau apoiamos a Casa Emanuel, orfanato, tanto na área da saúde como na educação;   
* Apoiamos um Centro de reabilitação física; o  Orfanato  Bombarem;  e o  Hospital de Cumura (nomeadamente com o projeto Visão/Guiné);
* Apoiamos AIDA que é uma ONG que dá apoio ao Hospital central Simão Mendes  e coordena em parceria connosco o projeto de famílias de acolhimento em Portugal;                                                                                         
* em Nhoma apoiamos a irmã Valéria com o seu novo centro materno infantil;
* em Ponta Gardete, o complexo escolar de surdos-mudos com o autocarro que agora trazemos (O Bojador) e equipamento que há de chegar no contentor.


 Desde o início foi entendido que o trabalho, na Guiné, seria orientado pelas populações e líderes locais, recebendo a cooperação das equipas da Fundação João XXIII.
Faz, por conseguinte, todo o sentido o lema desta «1ª Conferência sobre os 25 anos de Solidariedade da Fundação João XXII/Casa do Oeste na Guiné-Bissau» - «Se Alguém te ajudar não fiques de braços cruzados » -
O trabalho realizado pelas populações guineenses e seus líderes justifica o nosso mais alto apreço, devido à união de esforços que o animou, aos resultados conseguidos,  bem como à prioridade que soube dar às necessidades básicas. Quando vemos os projetos vingarem, as pessoas locais empenharem-se neles, beneficiarem e terem uma vida mais digna, ficamos felizes.
Felizes porque decidimos pôr os pés ao caminho na direção dos que precisam, felizes porque vencemos o comodismo e a indiferença entrando na estrada do bom samaritano… Felizes porque acreditamos que não há futuro sem solidariedade, que não há futuro sem caridade e que não há esperança sem que cada um dê alguma coisa de si. Tudo isso dá-nos imensa alegria e entusiasmo para continuar a missão.
Então, para desenvolver todos estes apoios,  o que fazemos em Portugal?
A Fundação tem uma Equipa Coordenadora da Solidariedade com a Guiné cujos membros vêm ao meio de vós colher os vossos projetos e respetivas necessidades.
Reunimos uma ou duas vezes por mês para analisar os vossos pedidos. Para organizarmos os pedidos a fazer e as recolhas a efetuar, campanhas a mobilizar… e para organizarmos as vindas de Grupos de voluntariado à Guiné e decidirmos e preparamos a vinda de contentores. 
São centenas os solidários da retaguarda com os seus apoios.
Por isso há um grupo de voluntários que semanalmente faz recolha de todo o tipo de materiais, desde o papel e cartão para reciclagem, roupas, livros, móveis, etc… o que é bom e útil para vos trazer.  Muitas outras coisas vendemos para fazer dinheiro para pagarmos as despesas dos contentores que nos custam cerca de 5.000 € cada um. Não basta que nos dêem as coisas. Trazê-las sai caro. O despacho e desalfandegamento aqui na Guiné e o seu respetivo transporte para o local da descarga.
Os apoios prestados à «Solidariedade com a Guiné» são muitos e concretizam-se de formas tão variadas como: organização de festas e convívios, jantares de solidariedade, venda de rifas, organização de bazares pelo Natal e no Verão, campanhas para angariação de fundos por grupos paroquiais de catequese, agrupamentos de escuteiros…todos com o objetivo concreto de comprar, por exemplo, um carro, um trator, uma ambulância, ou comprar cimento, ferro e chapas metálicas a trazer para edificação duma escola ou de um centro de enfermagem…
Existem entidades públicas, designadamente escolas e hospitais, mas também Câmaras Municipais, Tribunais… que têm doado muitos móveis e equipamentos por motivos de modernização.
E muitos bens doados por pessoas, instituições e empresas do nosso país, sendo os materiais de construção, a roupa, o material escolar, o mobiliário, os medicamentos e os carros, os mais significativos.
São, contudo, as ofertas monetárias mensais de alguns amigos, as receitas dos eventos que se organizam e dos bazares que se fazem que vão permitindo o envio regular de todos estes bens para a Guiné… Quantos anónimos que nos entregam dinheiro: 10, 50, 100, 200, 500 euros e até mais… A título de exemplo a transinsular responsabilizou-se por meia dúzia de contentores, a Bombóleo-Central Diesel que todos os anos suporta um frete marítimo dum contentor.
Mencionar nomes de amigos desta «Solidariedade com a Guiné» é sempre um risco de esquecer alguns, quando se sabe que são muitas as pessoas, empresas e entidades envolvidas nesta cadeia de solidariedade:
- Empresários e estabelecimentos na área da construção civil que ofereceram muitos materiais, como sanitários, ladrilhos, mosaicos, ferro, cimento, madeiras…
- Laboratórios farmacêuticos e farmácias que doam, sobretudo, medicamentos, mobiliário hospitalar e material de enfermagem…
- Empresas de confeção de calçado que oferecem artigos de boa qualidade…
- Editoras, escolas e livrarias que doam imenso material escolar, livros, material informático e móveis…
- Pessoas e empresas que oferecem carros e diversos equipamentos agrícolas….
 Por fim, refiro a família Pedroso que ao longo destes anos nos tem cedido um armazém (no Sobreiro –Mafra) para recolher e guardar os bens doados à Fundação, destinados a esta solidariedade com o vosso país.
Em todo este empenhamento e entreajuda sobressai a alegria exuberante que todos sentem do dever cumprido e daquela afirmação de S. Francisco de Assis: É dando que se recebe.
Temos consciência de que temos feito pouco, dada a dimensão das vossas necessidades e problemas com que sois confrontados, mas sabemos que ajudando a desenvolverem-se estamos a estabelecer a justiça e a paz, estamos a contribuir para a vossa felicidade como povo irmão e amigo que nos acolhe de braços abertos.

 
 

Para terminar, não podemos deixar de referir algumas pessoas que nos têm marcado pela sua personalidade de guineenses:
·         Em primeiro lugar o 1º Bispo de Bissau, D. Settímio Ferrazetta, que alguns de nós conhecemos e que nos deu o testemunho da sua simplicidade, da bondade e da esperança no meio das tribulações, incutindo-nos a paixão pela Guiné, pelo seu acolhimento e pela sua doação ao povo que amou e serviu. Tinha o espírito e a simplicidade do Bom Papa João XXIII.  Ele é para vós um pai. Foi um grande líder prò desenvolvimento do país, pelo diálogo e pela paz.    
·         Fernando Cá, ilustre guineense (falecido há pouco mais de um ano, 10.12.2015) natural de Biombo que nós conhecemos emigrante em Lisboa. Foi a sua mão que nos indicou o caminho de Ondame e nos apresentou em 1992, o Régulo João Longa que nos cedeu terreno para instalarmos o Centro Social João XXIII que é sede da nossa Fundação. Fernando Cá criou a APRODEP, associação dos emigrantes guineenses em Portugal, dando apoio aos doentes idos da Guiné, - tanto em fornecimento de roupas, comida, como  auxilio na legalização, - organismo  a que presidia. Tinha um sonho para o desenvolvimento da sua região de Biombo que era criar um centro de formação agrícola. Faltando-lhe a saúde para o conseguir doou à nossa Fundação o terreno na chamada zona do Mar Azul, pedindo-nos para levar por diante esse seu sonho que é o desenvolvimento da agricultura de hortícolas que a Cooperativa Agrícola João XXIII/COAGRI, está a concretizar.

·         Duas outras figuras marcantes são o prof. Raul e o Du, Leónico da Silva – os dois Delegados guineenses  da nossa Fundação, com quem trabalhamos há muitos ano. O Du foi-se formando com o prof. Raúl na Cooperativa de S. José e hoje lidera a Cooperativa Agrícola João XXII/COAGRI em Quinhamel. O prof. Raúl a quem devemos esta CONFERÊNCIA, tem mostrado uma rara capacidade de líder pelo desenvolvimento cooperativo e de Diretor da Escola. É um exímio organizador de eventos, como muito bem exemplifica esta «1ª Conferência dos 25 anos da Solidariedade da Fundação João XXIII» Temos por ele uma grande admiração, pela capacidade de pôr a render todas as potencialidades.”