“Num tempo dominado pela cultura do descarte e perante o agravamento das desigualdades dentro das nações e entre elas, gostaria de convidar os responsáveis das organizações internacionais e dos Governos, dos mundos económico e científico, da comunicação social e das instituições educativas a pegarem nesta bússola dos princípios (…) para dar um rumo comum ao processo de globalização, um rumo verdadeiramente humano”, escreve Francisco.
O texto apresenta uma “gramática” do cuidado, que passa pela “promoção da dignidade de toda a pessoa humana, a solidariedade com os pobres e indefesos, a solicitude pelo bem comum e a salvaguarda da criação”.
O Papa coloca esta preocupação em ligação com os ensinamentos bíblicos, que mostram um “Deus Criador” e as “ações messiânicas” de Jesus em favor dos mais desfavorecidos, lembrando ainda que “as obras de misericórdia espiritual e corporal constituem o núcleo do serviço de caridade da Igreja primitiva” e da Doutrina Social da Igreja.
A mensagem sublinha a dignidade fundamental de cada ser humano, donde derivam direitos e deveres, “a responsabilidade de acolher e socorrer os pobres, os doentes, os marginalizados”.
A solidariedade ajuda-nos a ver o outro – quer como pessoa quer, em sentido lato, como povo ou nação – não como um dado estatístico, nem como meio a usar e depois descartar quando já não for útil, mas como nosso próximo, companheiro de viagem, chamado a participar, como nós, no banquete da vida, para o qual todos somos igualmente convidados por Deus”.
Francisco retoma preocupações manifestadas na sua encíclica social e ecológica ‘Laudato si’, destacando a exigência de “ouvir ao mesmo tempo o grito dos necessitados e o da criação”.
O Papa convida a agir “conjunta e solidariamente em prol do bem comum, aliviando quantos padecem por causa da pobreza, da doença, da escravidão, da discriminação e dos conflitos”.
O texto propõe um novo protagonismo das mulheres “na família e em todas as esferas sociais, políticas e institucionais”, bem como uma aposta na educação das novas gerações, com a ajuda dos líderes religiosos, para transmitir os valores “da solidariedade, do respeito pelas diferenças, do acolhimento e do cuidado dos irmãos mais frágeis”.
Em tempos de crise, Francisco exige “respeito pelo direito humanitário” nos conflitos e volta a questionar os gastos militares, face a outras prioridades “como a promoção da paz e do desenvolvimento humano integral, o combate à pobreza, o remédio das carências sanitárias”.
À imagem do que fez na sua encíclica ‘Fratelli Tutti’, publicada em outubro, o Papa propõe a criação de um “Fundo mundial”, com o dinheiro que se gasta em armas e outras despesas militares, “para poder eliminar a fome e contribuir para o desenvolvimento dos países mais pobres”.
“Colaboremos, todos juntos, a fim de avançar para um novo horizonte de amor e paz, de fraternidade e solidariedade, de apoio mútuo e acolhimento recíproco. Não cedamos à tentação de nos desinteressarmos dos outros, especialmente dos mais frágeis, não nos habituemos a desviar o olhar”, conclui.
A mensagem de Francisco para o 54.º Dia Mundial da Paz tem como título ‘A cultura do cuidado como percurso para a paz’.
O Papa deixa votos de que o ano de 2021 faça a humanidade progredir “no caminho da fraternidade, da justiça e da paz entre as pessoas, as comunidades, os povos e os Estados”.
O Dia Mundial da Paz foi instituído em 1968 pelo Papa Paulo VI (1897-1978) e é celebrado no primeiro dia do novo ano.
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