ENCONTRO DE
APROFUNDAMENTO DA FÉ:
A POBREZA NA DINÂMICA
DOS TEMPOS E DAS SOCIEDADES
Pretendendo rezar
a vida, das comunidades representadas, os grupos de base partilharam: o
seu olhar e reflexão sobre algumas das realidade problemáticas das suas
comunidades. Partilharam também como é que os grupos têm procurado ser
"Igreja em saída", ao encontro dos mais pobres e que ajude a dar
passos rumo a uma Ecologia Integral, como nos propõe o Papa Francisco.
Dessa partilha
destaco o seguinte «O nosso agir é
frequentemente condicionado pela forma como julgamos os outros, sobretudo quando
se trata de pessoas ou situações que são do nosso conhecimento local e pessoal,
pois o mais fácil, para nada fazermos em ordem a resolver esses casos concretos,
é fazermos o julgamento superficial e parcial das pessoas e dos problemas que
temos pela frente, pelo que é importante que estas questões sejam refletidas em
grupo, pois essa forma permite limpar dos nossos olhos "as palhas"
que nos impedem de ver os outros com menos parcialidade e com mais clareza e
fraternidade. Só o grupo nos poderá ajudar a estarmos atentos à gravidade da
crise cultural, ecológica e aos nossos “maus hábitos”.
Os empenhamentos
dos grupos passam por acções de solidariedade com famílias das suas
comunidades; solidariedade com Guiné; colaboração com outras
"organizações" no apoio a situações de carência, nomeadamente, "os
sem abrigo", apoio a famílias de refugiados; participação e promoção de
tempos de formação, tais como: Escola Paroquial, Círculos de Diálogo, etc….
Este tempo de
quaresma é um tempo propício à conversão, a abrir o coração - à escuta de Deus
e ao amor aos irmãos, principalmente os irmãos mais carenciados.
Neste Encontro
olhámos com "profundidade" para a "Pobreza" - uma realidade
constante na nossa História Humana - uma realidade que somos desafiados a
transformar.
A socióloga, Maria Engrácia Leandro (professora catedrática emérita
da Universidade do Minho), presenteou-nos com uma palestra seguida de debate onde se abordou - A origem da pobreza; a "pobreza na Bíblia";
a pobreza nas sociedades modernas.
Os estudos
sociológicos fazem notar que os problemas de pobreza remontam ao neolítico,
período em que os seres humanos deixaram de ser nómadas e passaram a cultivar a terra ou seja pode dizer-se, de
forma simplista, que a origem da Pobreza está na propriedade privada - na posse
da terra.
O cuidado do
"pobre" é uma questão que é referenciada na Bíblia desde o Antigo
Testamento…O livro do Deuteronómio referencia três tipos aos pobres: Levitas
(na sociedade judaica os que não possuíam terra; estrangeiros (emigrantes); as
viúvas, os orfãos; e recomenda é preciso
dar-lhes o auxilio de que precisam…
Já no Deutronómio
se faz notar que mais que a "esmola" a ajuda ao pobre deverá passar pela
justiça social.
O Profeta Amós foi um profeta muito
perseguido no seu tempo, porque ele viveu numa época de grande esplendor para
alguns, mas de grande miséria para outros. Ele denunciava a corrupção, a vida
de luxo e isso não agradava aos poderosos…
No Livro do Êxodo
é claro o sentimento de que " Somos um Povo - se todos somos um povo temos
que cuidar de todos".
Com Jesus Cristo
esta atenção ao "pobre" ganha nova expressão e são numerosos os
episódios em que Jesus pratica e recomenda o "cuidar" do outro como
irmão, como igual em dignidade.
A problemática da
Pobreza ao longo da História da humanidade não acaba, vai é mudando para outros
cambiantes.
Pode-se dizer que
é na era moderna - sec XVIII, com a revolução industrial - que a questão da
pobreza se agudiza…na era anterior em que a economia dependia da posse da
terra, apesar das situações de grande pobreza havia "proximidade" da
terra (campo) donde algum provento se poderia tirar; os proprietários das
terras tinham deveres de protecção dos pobres…Na era da industrialização o
êxodo das pessoas para as cidades cria situações de pobreza extrema -
pauperismo - as pessoas trabalhavam em condições miseráveis; e há um
"exército de desempregados".
Estas condições de miséria extrema conduzem
também a situações de extrema violência.
A pobreza abrange
a pessoa humana muito para além da questão da sobrevivência material,
quebram-se os laços sociais, a pessoa em situação de pobreza, sente-se excluído
da sociedade; são-lhe retiradas as oportunidades de ter um projecto de vida
digna. "Todo o homem se define pelo seu projecto" - diizia Jean Paul
Sartre.
Nas ditas
sociedades democráticas - onde pela lei há direitos iguais para todos - as
desigualdades sociais são cada vez
maiores. Há riqueza, mas muito mal distribuída. Mesmo com educação dita para
todos, as oportunidades e possibilidades de "singrar" na vida não são iguais para quem provém de famílias,
bairros pobres ou para quem nasce em famílias com boas condições económicas.
São vários os
documentos da Doutrina Social da Igreja que falam destas questões, e que apelam
à Caridade verdadeira - solidariedade e justiça social, mas acções concretas
são pouco representativas.
Deste olhar reflexivo sobre a realidade "Pobreza" fica-nos o
grande desafio de nos esforçarmos ainda mais para sermos uma "Igreja em
saída" que caminha com os "pobres" ajudando-os a adquirirem a
sua dignidade humana. Dignidade que "lhes foi tirada"… Um autor
cristão disse: o que se dá aos pobres, não é mais do que o que lhe foi tirado…
Não podemos ficar
no pessimismo, temos de fazer apelo à
esperança, mas não pode ser uma esperança esvaziada de sentido, há que com
as pessoas criar pequenas acções que possam fazer a diferença na sua vida,
promovendo a sua dignidade e integração na sociedade. Assim trabalhamos por uma Ecologia Integral.
Porque é Cristo
que nos alimenta e envia a ser "as mãos de Deus" neste mundo,
terminámos o Encontro com a Celebração da Eucaristia.
Dina Franco Silva