ENCONTRO DE APROFUNDAMENTO DA FÉ:
A POBREZA NA DINÂMICA DOS TEMPOS E DAS SOCIEDADES
 No 1º Domingo da quaresma - 5 de Março - cerca de 50 militantes e amigos da ACR,  reuniram-se, na  Casa do Oeste, para  aprofundar o sentido da sua Caminhada Quaresmal para a Páscoa.
Pretendendo rezar a vida, das comunidades representadas, os grupos de base partilharam: o seu  olhar e reflexão sobre algumas  das realidade problemáticas das suas comunidades. Partilharam também como é que os grupos têm procurado ser "Igreja em saída", ao encontro dos mais pobres e que ajude a dar passos rumo a uma Ecologia Integral, como nos propõe o Papa Francisco.
Dessa partilha destaco o seguinte «O nosso agir é frequentemente condicionado pela forma como julgamos os outros, sobretudo quando se trata de pessoas ou situações que são do nosso conhecimento local e pessoal, pois o mais fácil, para nada fazermos em ordem a resolver esses casos concretos, é fazermos o julgamento superficial e parcial das pessoas e dos problemas que temos pela frente, pelo que é importante que estas questões sejam refletidas em grupo, pois essa forma permite limpar dos nossos olhos "as palhas" que nos impedem de ver os outros com menos parcialidade e com mais clareza e fraternidade. Só o grupo nos poderá ajudar a estarmos atentos à gravidade da crise cultural, ecológica e aos nossos “maus hábitos”.
Os empenhamentos dos grupos passam por acções de solidariedade com famílias das suas comunidades; solidariedade com Guiné; colaboração com outras "organizações" no apoio a situações de carência, nomeadamente, "os sem abrigo", apoio a famílias de refugiados; participação e promoção de tempos de formação, tais como: Escola Paroquial, Círculos de Diálogo, etc….
Este tempo de quaresma é um tempo propício à conversão, a abrir o coração - à escuta de Deus e ao amor aos irmãos, principalmente os irmãos mais carenciados.
Neste Encontro olhámos com "profundidade" para a "Pobreza" - uma realidade constante na nossa História Humana - uma realidade que somos desafiados a transformar.
A socióloga,  Maria Engrácia Leandro (professora catedrática emérita da Universidade do Minho), presenteou-nos com uma  palestra seguida de debate onde se abordou  - A  origem da pobreza; a "pobreza na Bíblia"; a pobreza nas sociedades modernas.
 Muitas foram as ideias, as questões abordadas, não pretendendo fazer um resumo do que ouvimos e refletimos, partilho, apenas, alguns pontos da reflexão que para mim foram importantes:
Os estudos sociológicos fazem notar que os problemas de pobreza remontam ao neolítico, período em que os seres humanos deixaram de ser nómadas e passaram  a cultivar a terra ou seja pode dizer-se, de forma simplista, que a origem da Pobreza está na propriedade privada - na posse da terra.
O cuidado do "pobre" é uma questão que é referenciada na Bíblia desde o Antigo Testamento…O livro do Deuteronómio referencia três tipos aos pobres: Levitas (na sociedade judaica os que não possuíam terra; estrangeiros (emigrantes); as viúvas, os orfãos; e recomenda é preciso dar-lhes o auxilio de que precisam…
Já no Deutronómio se faz notar que mais que a "esmola" a ajuda ao pobre deverá passar pela justiça social.
O Profeta Amós foi um profeta muito perseguido no seu tempo, porque ele viveu numa época de grande esplendor para alguns, mas de grande miséria para outros. Ele denunciava a corrupção, a vida de luxo e isso não agradava aos poderosos…
No Livro do Êxodo é claro o sentimento de que " Somos um Povo - se todos somos um povo temos que cuidar de todos".
Com Jesus Cristo esta atenção ao "pobre" ganha nova expressão e são numerosos os episódios em que Jesus pratica e recomenda o "cuidar" do outro como irmão, como igual em dignidade.
A problemática da Pobreza ao longo da História da humanidade não acaba, vai é mudando para outros cambiantes.
Pode-se dizer que é na era moderna - sec XVIII, com a revolução industrial - que a questão da pobreza se agudiza…na era anterior em que a economia dependia da posse da terra, apesar das situações de grande pobreza havia "proximidade" da terra (campo) donde algum provento se poderia tirar; os proprietários das terras tinham deveres de protecção dos pobres…Na era da industrialização o êxodo das pessoas para as cidades cria situações de pobreza extrema - pauperismo - as pessoas trabalhavam em condições miseráveis; e há um "exército de desempregados".
Estas condições de miséria extrema conduzem também a situações de extrema violência.
A pobreza abrange a pessoa humana muito para além da questão da sobrevivência material, quebram-se os laços sociais, a pessoa em situação de pobreza, sente-se excluído da sociedade; são-lhe retiradas as oportunidades de ter um projecto de vida digna. "Todo o homem se define pelo seu projecto" - diizia Jean Paul Sartre.
Nas ditas sociedades democráticas - onde pela lei há direitos iguais para todos - as desigualdades sociais  são cada vez maiores. Há riqueza, mas muito mal distribuída. Mesmo com educação dita para todos, as oportunidades e possibilidades de "singrar" na vida  não são iguais para quem provém de famílias, bairros pobres ou para quem nasce em famílias com boas condições económicas.
São vários os documentos da Doutrina Social da Igreja que falam destas questões, e que apelam à Caridade verdadeira - solidariedade e justiça social, mas acções concretas são pouco representativas.
Deste olhar reflexivo sobre a realidade "Pobreza" fica-nos o grande desafio de nos esforçarmos ainda mais para sermos uma "Igreja em saída" que caminha com os "pobres" ajudando-os a adquirirem a sua dignidade humana. Dignidade que "lhes foi tirada"… Um autor cristão disse: o que se dá aos pobres, não é mais do que o que lhe foi tirado…
Não podemos ficar no pessimismo, temos de fazer apelo à esperança, mas não pode ser uma esperança esvaziada de sentido, há que com as pessoas criar pequenas acções que possam fazer a diferença na sua vida, promovendo a sua dignidade e integração na sociedade. Assim  trabalhamos por uma Ecologia Integral.
Porque é Cristo que nos alimenta e envia a ser "as mãos de Deus" neste mundo, terminámos o Encontro com a Celebração da Eucaristia.
Dina Franco Silva