O ISLÃO –
Aspetos culturais e religiosos…conhecer para compreender
No passado sábado, dia 25 de Março, realizou-se na Casa do Oeste uma
conferência / debate dirigida pelo Dr. Paulo Mendes Pinto, professor da
universidade Lusófona, subordinada ao tema: “O ISLÃO – Aspetos culturais e
religiosos…conhecer para compreender”.
A conferência foi particularmente importante para desmistificar muitas
das falsas notícias – ou pior do que isso, meias-verdades – com que somos
diariamente presenteados pela nossa imprensa, nomeadamente a mais
sensacionalista.
O orador referiu que, como todos sabemos, o Islão é uma religião
monoteista, que tal como o Cristianismo tem a sua origem no Antigo Testamento e
uma das figuras centrais do Islão é, precisamente, Maria, Mãe de Jesus. O
próprio Jesus, que é sempre referido como filho de Maria, é um dos Profetas
mais importantes para os Muçulmanos. Há, por isso, do ponto de vista teológico,
muitos pontos de contacto entre a religião cristã e o islão.
Então, se Jesus e Maria são duas figuras centrais do Islão e se muitos
dos princípios consignados na sua mensagem são muito próximos (com algumas diferenças,
naturalmente, significativas) como é possível que, em nome do Islão, seja aceite
O TERRORISMO e que muitos dos seus seguidores o incentivem?
Os problemas que estamos a viver hoje, de acordo com o orador, têm a
sua origem na queda do Império Otomano e, mais recentemente, na desagregação
dos diversos países da região do Médio Oriente com a “primavera” árabe.
Os permanentes conflitos existentes na região, a invasão do Iraque e a
desagregação da Síria, promovida, em grande parte pelas potências ocidentais, (ninguém
consegue perceber porque é que os Sírios sendo um povo pacífico, desenvolvido,
com níveis muito bons de educação, saúde, emprego, de um momento para o outro
vê as suas principais cidades destruídas e atirados para a miséria), originaram
por parte das populações do Médio Oriente um sentimento de crescente ressentimento
contra o Ocidente, o qual têm sido aproveitado, quer em termos políticos, quer,
principalmente em termos religiosos por alguns líderes religiosos.
Foram referidos dois aspetos que potenciam esta realidade:
1 – Por um lado não há uma entidade que unifique os diversos grupos muçulmanos…
2 – Por outro lado, perante toda a instabilidade existente (de guerra quase permanente) verificou-se um enorme aumento da prática religiosa.
Então é esta a principal causa do terrorismo, nomeadamente na Europa?
Não.
Estas são as razões pelas quais os muçulmanos, e talvez com razão,
estão cada vez mais ressentidos com o Ocidente, (eventualmente incentivados por
alguns dos líderes daqueles grupos) por um lado e estão eles próprios com
alguma falta de sentido para a vida - deixando-se
instrumentalizar mais facilmente por esse motivo - face às enormes privações e
atrocidades de que são alvo diariamente…1 – Só na Síria devido à guerra civil já morreu mais de 1 milhão de pessoas…no Iraque o número de civis que morreram devido à invasão dos EUA até 2008 já era superior a 1,2 milhões…
2 - Só a Alemanha já recebeu cerca de 1 milhão de refugiados (a maior parte dos quais da Síria…)…
3 - Só no mediterrâneo já morreram mais de 10 000 pessoas nos últimos 4 anos (só em 2015 morreram cerca de 3 700 pessoas e em 2016 mais de 3 800 pessoas).
E, os atentados?
Quantas pessoas morreram em atentados terroristas na Europa nos últimos
4 anos? O número de mortos, apesar de nos aterrorizar a todos, é inferior a
300…..e…..90% desses atentados de terroristas na Europa foram efetuados por…. INDIVIDUOS
DE ORIGEM OU COM RESIDÊNCIA HÁ VÁRIOS
ANOS NA EUROPA.…onde vivem atualmente mais de 15 milhões de Muçulmanos só em
três países: França 8 milhões; Alemanha 5 milhões e Reino Unido 3 milhões.E, nós cristãos/ocidentais, vamos continuar a pensar que os refugiados são “um perigo”? E que os muçulmanos são todos “terroristas”? ou, afinal, que os muçulmanos, são, na sua generalidade, tão humanos como nós, muitas das vezes mais religiosos e crentes do que nós, cumprindo os preceitos religiosos e culturais com grande rigor…que importa conhecer com mais profundidade para compreender e não fazer juízos apressados e generalistas.
Manuel Azenha.