SER BOM AGRICULTOR EXIGE MUITA COMPETÊNCIA
“Ser, hoje, um bom agricultor não é fácil, exige muita competência…os produtos têm que ter qualidade para poderem concorrer num mercado extremamente exigente.”
“Temos regras muito apertadas para obter a certificação da produção (condutas de boas práticas agrícolas)”. “Hoje exige-se que a produção seja quase biológica, com análises muito rigorosas aos químicos utilizados. A formação do agricultor tem de ser permanente e sempre apoiada por técnicos. As OPs (Organização de Agricultores) são uma preciosa ajuda, e sem elas ou outras associações semelhantes não é possível ser-se, hoje, agricultor a sério quer para termos  apoio à produção quer para a comercialização”.
Quem nos afirma isto é o Agostinho dos Santos, agricultor do Valcôvo, com quem tive uma conversa muito interessante e que foi publicada, há tempos, no jornal da ACR, “Grito Rural” e que reproduzo agora no blog da Fundação João XXIII, no âmbito do Encontro de Agricultores do Oeste do próximo dia 12 de março.
“Sou um apaixonado pelo que faço…e faço as coisas com toda a sabedoria que tenho e com todo o rigor…temos que ser humildes, conhecer outras experiências e aprender com os que mais sabem e com os técnicos…com orgulho e isolados não chegamos a lado nenhum”.
Este homem de 62 anos começou, quando se casou, a trabalhar como agricultor por conta própria em 2 fazendas de renda. Fez batata durante 20 anos. Entretanto arrendou um pomar e foi plantando nas outras terras pereiras rocha. Hoje faz viveiros para os seus pomares e para vender. Comprou já 11 fazendas sempre pegadas para ter dimensão e amanha mais 4 de renda. No total uns 30 hectares. Produz 400 toneladas de pera e dentro de 2/ 3 anos espera aumentar para 500/600 toneladas. 95% da produção vai para exportação.
Tem vindo sempre a investir, não guardou o dinheiro. Foi sempre muito cumpridor das suas responsabilidades com os bancos e por isso teve sempre crédito, mas chegou a pagar 31% de juros. Só em tratores, motores e alfaias tem mais de 200 mil euros gastos.
“O agricultor tem que saber gerir muito bem o pouco rendimento que obtém,  pois, primeiro tem que avançar o investimento e só mais tarde recebe o pagamento da venda da sua produção…as grandes superfícies são  muitas das vezes uma ameaça à resistência do produtor…têm uma margem de lucro grande e os riscos caem na sua maior parte sobre os produtores…tudo tem que ser suportado pelos produtores”.
Trabalhar a terra com as melhores técnicas e aproveitando ao máximo as potencialidades dos terrenos e da água foi a grande lição que o Agostinho aprendeu em 1978 num Seminário com técnicos israelitas, na Quinta de S. João da Zona Agrária de Caldas da Rainha, integrada nas Jornadas de Dinamização Agrícola realizadas no oeste pela Ação Católica Rural  e que nunca mais esqueceu e tem vindo a pôr na prática.  Só assim a agricultura pode ser uma atividade rentável e ser  agricultor uma profissão tão digna como outra qualquer.
“Trabalhamos muito, em período de pulverizas e de colheita chegamos a trabalhar 16 horas seguidas…mas no fim das colheitas temos um período mais calmo e podemos até tirar uns dias de férias….”
A agricultura tem futuro?
“Hoje, por causa da crise de emprego, fala-se muito em voltar à agricultura”. “Há muitos jovens que vão tentar a agricultura, isso é bom…mas poucos vão conseguir ter sucesso. Não se pode ser paraquedista nesta profissão. É preciso ser-se agricultor de alma e coração…é preciso ser muito persistente. Tive anos de perder muito dinheiro e não desisti. Que não venham aí só para receber os subsídios…a agricultura não pode viver de subsídios mas do pagamento razoável, justo, da produção”. 
 Este homem que, para além da sua atividade profissional, tem dedicado muito tempo voluntário a várias associações e grupos cristãos diz em jeito de conclusão: “não sou rico mas sou muito feliz. Acho a minha vida um milagre. Agradeço a Deus os talentos me deu.”  
António Ludovino