AGRICULTORES DO OESTE REUNIRAM NO BOMBARRAL

O ENCONTRO CONTOU COM A PARTICIPAÇÃO DO PATRIARCA DE LISBOA

D. Manuel Clemente, Cardeal Patriarca de Lisboa, participou no dia 12 de março de 2016, num Encontro de Agricultores do Oeste, que juntou no Teatro Eduardo Brazão, no Bombarral, cerca de 180 pessoas.

O evento foi promovido pela Acção Católica Rural, a Fundação João XXIII - Casa do Oeste e a COOPSTECO - Cooperativa de Serviços Técnicos e Conhecimento, e teve por finalidade debater a situação muito precária em que se encontram os pequenos agricultores e as grandes dificuldades que enfrentam na sua atividade profissional.
Como salientou, na abertura da sessão, o Padre Joaquim Batalha, da Fundação João XXIII - Casa do Oeste, este encontro pretendeu dar “atenção às  realidades problemáticas e preocupações rurais que se vivem no momento”.

No seguimento do “grande desafio” lançado pelo Papa Francisco “para cuidarmos da casa comum, decidimos promover este encontro de partilha de saberes, preocupações e de diálogo entre os que cultivam a terra e vivem do seu trabalho”, explicou o Pe Batalha.

Por fim, alertou para o fato do país ter uma “grande carência de produtos agrícolas de qualidade, diversificados, que satisfaçam o consumidor e a preços mais razoáveis”, considerando que se “houver condições para uma atividade agrícola digna, protege-se e cria-se mais emprego e melhor economia”.

José Manuel Vieira, presidente da Câmara Municipal do Bombarral, felicitou a organização pela “pertinência do encontro”, sendo motivo de satisfação o facto do mesmo ter acontecido “no coração do Oeste rural”.

Destacando a capacidade produtiva do concelho ao nível da fruticultura e a vitivinicultura, o autarca afirmou não ser “por acaso que anualmente acontece no Bombarral o Festival do Vinho Português e a Feira Nacional da Pêra Rocha”, certames que este ano se irão realizar de 2 a 7 de agosto.

Recordando a Encíclica do Papa Francisco, José Manuel Vieira sublinhou que com esta iniciativa pretende-se “alertar para as problemáticas que afectam o sector”, considerando que a “melhor forma de o fazer é promover a discussão sobre os desafios dos agricultores e fazer o levantamento dos constrangimentos, na procura de soluções de futuro”.

A sessão prosseguiu com a intervenção de Ana Cristina Rodrigues, professora universitária e consultora, que apresentou uma panorâmica geral do sector agrícola na região Oeste, tendo destacado, entre outros aspectos, a sua capacidade produtiva.

Seguiram-se as várias intervenções relacionadas com as fileiras de produção, tendo os oradores convidados elencado as dificuldades, os desafios e também os anseios que se sente em cada um dos sectores produtivos que estiveram representados. 

Manuel Arsénio, enólogo e produtor do Cadaval, falou sobre vitivinicultura, António Rodrigo, diretor geral da Louricoop / Biofrade, foi o representante dos horticultores, enquanto Jorge Serrazina, diretor técnico da Cooperativa Agrícola, Benedita, falou sobre os problemas do sector pecuário.

Rute Santos, coordenadora da APAS – Florestas, falou sobre a questão das florestas, e José Alexandre Batista, presidente da direção da COOPSTECO, elencou as dificuldades sentidas pelos fruticultores.

O encerramento do encontro coube ao Cardeal Patriarca, D. Manuel Clemente, que baseou a sua intervenção em algumas passagens da Encíclica do Papa Francisco, destacando alguns alertas que o líder da Igreja Católica nos deixa na sua reflexão.

O primeiro prendeu-se com a importância que, na sua opinião, o setor deve dar ao consumidor. Como frisou, “os produtores e os distribuidores são vários, mas os consumidores somos todos nós”.

“Se queremos compreender as coisas para depois agir acertadamente em relação à problemática atual, é sobretudo no consumidor que devemos incidir”, acrescentou o Cardeal Patriarca, salientando que são os consumidores que decidem o que querem ou o que não querem.  

Pegando na temática do trabalho, que o Papa também aborda na sua reflexão, D. Manuel Clemente afirmou que para fomentar o emprego é “indispensável promover uma economia que favoreça a diversificação produtiva e a criatividade empresarial”.
 
“Se não tivermos cuidado com esta diversificação e com esta criatividade não temos futuro para humanidade”, alertou o Cardeal Patriarca.

Na leitura das conclusões do encontro, foi destacada a importância da região para a produção agrícola a nível nacional, ficou o alerta para as graves insuficiências na valorização dos produtos agrícolas produzidos na região e para a necessidade de continuar a concentrar as produções para um melhor acesso às redes de distribuição e ter mais força na negociação.

Ficou igualmente patente a necessidade de transmitir às entidades governamentais as dificuldades que os agricultores têm de enfrentar, no que diz respeito, por exemplo, à contratação de trabalhadores sazonais.

Paulo Coelho – Gabinete de apoio à Presidência- Câmara do Bombarral





TOMAR CONSCIENCIA DA REALIDADE DOS AGRICULTORES DO OESTE
«Cuidar da Casa Comum» é um desafio imperioso e urgente. O nosso Papa Francisco por onde vai, quase sempre alerta e chama-nos a ir com ele na atenção ao ambiente, à exclusão social, ao desenvolvimento, à dignidade da pessoa humana.

O desenvolvimento humano integral e o pleno exercício da dignidade humana não podem ser impostos; devem ser construídos e realizados por cada um, por cada família, em comunhão com os outros seres humanos.”. É urgente dar passos neste sentido. A primeira vez que este papa foi à ONU falou da paz e da construção da comunidade internacional, assentes em bases do direito e da justiça e lidos à luz da sua recente encíclica sobre “cuidar da Casa Comum”.

A Ação Católica Rural (ACR) e a Fundação João XXIII-Casa do Oeste, observando a realidade e perante este grande desafio do papa Francisco decidiram promover um encontro de partilha de saberes e preocupações e de diálogo entre os que cultivam a terra e vivem do seu trabalho e o nosso Bispo para que nos diga os ensinamentos que a nova encíclica do Papa nos dá para encarar a vida com mais esperança, porque se sentem desanimados. São grandes as dificuldades na sua atividade profissional. E o nosso país tem grande carência de produtos agrícolas de qualidade, diversificados, que satisfaçam o consumidor e a preços mais razoáveis. Porém sentem-se esmagados pelas grandes superfícies comerciais. Se, de facto, houver condições para uma atividade agrícola digna protege-se e cria-se mais emprego, melhor economia.

Com este Encontro pretende-se dar voz, especialmente aos pequenos agricultores e aos seus problemas. Pretende-se que seja um encontro de objetividade e que identifique situações concretas; colocar na mesa da discussão os problemas do setor que se resumem na questão chave: “as fileiras de produção agrícola, constrangidas por diversos fatores, não estão a conseguir criar riqueza para os produtores».
Pretende-se dar a conhecer à Igreja diocesana nos seus responsáveis estas preocupações, os desafios e as propostas dos agricultores do Oeste, ouvindo também o contributo do nosso Bispo. Além disso, possa ser uma ocasião para também contribuir para que sejam tomadas medidas pelas instâncias governamentais que respondam aos problemas identificados pelos agricultores.

Este Encontro destina-se por isso, em primeiro lugar a agricultores individuais, mas também representantes de associações agrícolas, entidades representativas das fileiras de produção: fruticultura, horticultura, vitivinicultura, florestas, pecuária…Por isso, há dias, numa conversa, um agricultor confessava que “ser, hoje, um bom agricultor não é fácil, exige muita competência…os produtos têm que ter qualidade para poderem concorrer num mercado extremamente exigente”.
Ir a este Encontro de partilha e de diálogo destina-se não só aos protagonistas das atividades agrícolas, mas também aos familiares envolventes. Tomar consciência das realidades é necessário para não só não se cair na indiferença, como necessária para a participação solidária.
Nós não viemos ao mundo para assistir, mas para participar.
 Vamos, pois, ao encontro dos agricultores com o nosso Patriarca amanhã, dia 12, no Teatro Eduardo Brazão, Bombarral, das 15 às 19,00h.
P. Batalha

CRISTÃOS CHAMADOS Á CONSTRUÇÃO DA CASA COMUM
Os grupos da Acção Católica Rural do Patriarcado de Lisboa estiveram reunidos na Casa do Oeste, em Ribamar da Lourinhã, no p. p. dia 21 de Fevereiro. Encontro de reflexão da 5ª etapa do Sínodo Diocesano de Lisboa sobre “Evangelizadores com Espírito” (cap. V da «Alegria do Evangelho» do Papa Francisco).
Neste Encontro estiveram 70 participantes, com a ajuda do teólogo Juan Ambrósio, que possibilitou o nosso entendimento das três maiores preocupações do Papa Francisco:
·         A Renovação da Igreja; esta Igreja que sai para a periferia, com alegria
·         A abertura da Igreja ao mundo em ordem ao cuidado da “ Casa comum”
·         A construção de um mundo diferente, através de uma família também renovada.
Não é possível construir a “Casa comum” sem misericórdia. Juan Ambrósio introduziu a importância do ano da Misericórdia, iniciado pelo Papa a 8 de dezembro último, em toda esta dinâmica de transformação movida pelo Espírito. O Papa diz-nos que a carta da Misericórdia (Bula para o Jubileu) dirigida a todos que a lerem, mostra que a transformação da Igreja e do mundo tem a marca da misericórdia. A Misericórdia de Deus não se limita ao perdão do que fazemos de mal, o nº.6 diz mesmo que a “Misericórdia de Deus é o amor das suas entranhas, é esse o amor de Deus Pai/Mãe, do qual somos fruto das suas entranhas. A justiça e a Misericórdia não são antagónicas porque a plenitude da Misericórdia é a plenitude da Justiça”.
Neste ano Jubilar da Misericórdia é-nos pedido que sejamos o rosto da misericórdia e que anunciemos o Evangelho com alegria para que se torne alegre a vida das pessoas e de todos os povos. É urgente abrirmo-nos ao mundo sem medo. A Igreja não é o Reino de Deus, o que é pedido à Igreja é que os cristãos estabeleçam o Reino de Deus em toda a Terra e a todos os homens.

 Percebemos em conjunto que a Igreja - sobretudo na sua hierarquia, mas também nós, nos nossos grupos, tantas vezes comodamente reunidos - para cumprir os desígnios da Misericórdia de Deus, deve ir além dos rituais, deve sair para a rua e fazer o caminho da construção da Casa Comum. E esse caminho é com todos, crentes enão crentes, ou crentes de formas diversas, mas verdadeiramente empenhados nesta aventura de contemplar a Misericórdia de Deus e assumi-la como próprio estilo de vida.” (Mv 13)

Foram concluídos três grandes desafios
  1. É urgentíssimo ter a ousadia de passarmos da conversa, do texto e da religião à vida;
  2. É imperioso que estejamos convencidos de que o tempo de hoje é o tempo das oportunidades para o agir já, deixando para trás o desânimo, os pessimismos, os medos, porque urge estarmos atentos ao que Deus nos fala.
  3. Criemos espaços nas nossas comunidades para a leitura crente e ativa dos acontecimentos que se vivem, criando assim condições para o surgimento de uma opinião adulta dos cristãos.
Guardemos o que nos diz o Papa: “Não tenhamos medo de nos deixarmos surpreender por Deus”.
Jacinto Duarte e Tiago Isabel

SER BOM AGRICULTOR EXIGE MUITA COMPETÊNCIA
“Ser, hoje, um bom agricultor não é fácil, exige muita competência…os produtos têm que ter qualidade para poderem concorrer num mercado extremamente exigente.”
“Temos regras muito apertadas para obter a certificação da produção (condutas de boas práticas agrícolas)”. “Hoje exige-se que a produção seja quase biológica, com análises muito rigorosas aos químicos utilizados. A formação do agricultor tem de ser permanente e sempre apoiada por técnicos. As OPs (Organização de Agricultores) são uma preciosa ajuda, e sem elas ou outras associações semelhantes não é possível ser-se, hoje, agricultor a sério quer para termos  apoio à produção quer para a comercialização”.
Quem nos afirma isto é o Agostinho dos Santos, agricultor do Valcôvo, com quem tive uma conversa muito interessante e que foi publicada, há tempos, no jornal da ACR, “Grito Rural” e que reproduzo agora no blog da Fundação João XXIII, no âmbito do Encontro de Agricultores do Oeste do próximo dia 12 de março.
“Sou um apaixonado pelo que faço…e faço as coisas com toda a sabedoria que tenho e com todo o rigor…temos que ser humildes, conhecer outras experiências e aprender com os que mais sabem e com os técnicos…com orgulho e isolados não chegamos a lado nenhum”.
Este homem de 62 anos começou, quando se casou, a trabalhar como agricultor por conta própria em 2 fazendas de renda. Fez batata durante 20 anos. Entretanto arrendou um pomar e foi plantando nas outras terras pereiras rocha. Hoje faz viveiros para os seus pomares e para vender. Comprou já 11 fazendas sempre pegadas para ter dimensão e amanha mais 4 de renda. No total uns 30 hectares. Produz 400 toneladas de pera e dentro de 2/ 3 anos espera aumentar para 500/600 toneladas. 95% da produção vai para exportação.
Tem vindo sempre a investir, não guardou o dinheiro. Foi sempre muito cumpridor das suas responsabilidades com os bancos e por isso teve sempre crédito, mas chegou a pagar 31% de juros. Só em tratores, motores e alfaias tem mais de 200 mil euros gastos.
“O agricultor tem que saber gerir muito bem o pouco rendimento que obtém,  pois, primeiro tem que avançar o investimento e só mais tarde recebe o pagamento da venda da sua produção…as grandes superfícies são  muitas das vezes uma ameaça à resistência do produtor…têm uma margem de lucro grande e os riscos caem na sua maior parte sobre os produtores…tudo tem que ser suportado pelos produtores”.
Trabalhar a terra com as melhores técnicas e aproveitando ao máximo as potencialidades dos terrenos e da água foi a grande lição que o Agostinho aprendeu em 1978 num Seminário com técnicos israelitas, na Quinta de S. João da Zona Agrária de Caldas da Rainha, integrada nas Jornadas de Dinamização Agrícola realizadas no oeste pela Ação Católica Rural  e que nunca mais esqueceu e tem vindo a pôr na prática.  Só assim a agricultura pode ser uma atividade rentável e ser  agricultor uma profissão tão digna como outra qualquer.
“Trabalhamos muito, em período de pulverizas e de colheita chegamos a trabalhar 16 horas seguidas…mas no fim das colheitas temos um período mais calmo e podemos até tirar uns dias de férias….”
A agricultura tem futuro?
“Hoje, por causa da crise de emprego, fala-se muito em voltar à agricultura”. “Há muitos jovens que vão tentar a agricultura, isso é bom…mas poucos vão conseguir ter sucesso. Não se pode ser paraquedista nesta profissão. É preciso ser-se agricultor de alma e coração…é preciso ser muito persistente. Tive anos de perder muito dinheiro e não desisti. Que não venham aí só para receber os subsídios…a agricultura não pode viver de subsídios mas do pagamento razoável, justo, da produção”. 
 Este homem que, para além da sua atividade profissional, tem dedicado muito tempo voluntário a várias associações e grupos cristãos diz em jeito de conclusão: “não sou rico mas sou muito feliz. Acho a minha vida um milagre. Agradeço a Deus os talentos me deu.”  
António Ludovino